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Professor, quando você apresentou a linguagem literária
e seus diferentes textos para os alunos, deve ter percebido que a
turminha teve uma certa dificuldade para compreender as diferenças entre
o eu lírico e o autor, especialmente em um poema. Essa dificuldade é
comum, mas pode ser eficientemente superada com a nossa sugestão de aula sobre as vozes do discurso.
Você deve explicar para os alunos o que é o famoso eu lírico e lembrá-los de que outras denominações são possíveis, como eu poético e sujeito lírico.
Deixe bem claro nesta proposta de aula sobre o eu lírico que, ao ler um
poema, por exemplo, entramos em contato com um “eu literário” que não é
necessariamente a manifestação da voz de seu autor real. É preciso
apontar para os alunos as diferenças entre o poeta e o eu lírico, que
dentro de um texto literário é uma espécie de identidade fictícia,
nascida sem nenhum compromisso com a lógica e com a compreensão de si
mesmo.
Para tornar a aula mais dinâmica e interessante, você
pode levar algumas canções de nossa música popular brasileira que bem
evidenciam a manifestação do sujeito literário. A aula sobre o eu lírico
pode ficar mais rica a partir de exemplos da manifestação do eu lírico
feminino nas músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso. O objetivo da
aula, que de preferência deve estender-se por, pelo menos, quatro
encontros, é identificar a presença do eu lírico feminino em canções de
autoria masculina. Observe alguns exemplos de canções que ilustram bem o
assunto:
Com açúcar, com afeto
Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer, qual o quê
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro meus braços pra você
Pra você parar em casa, qual o quê
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer, qual o quê
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro meus braços pra você
(Chico Buarque)
Esse cara
Ah, que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada, ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher .
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada, ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher .
(Caetano Veloso)
Olhos nos olhos
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
(Chico Buarque)
Os textos acima ajudarão os alunos a identificarem o
eu lírico e a fazerem a correta distinção entre a voz do enunciador (eu
lírico) e a voz do produtor (autor). Você pode também, professor, passar
algumas perguntas que poderão ser respondidas no caderno ou até mesmo
oralmente pela turma:
♫ 1- Quais são as características do eu lírico das canções apresentadas?
♫ 2- Quais elementos expressos no texto indicam o gênero do emissor e do interlocutor?
♫ 3- Como está classificada a relação entre os textos e as vozes do discurso?
♫ 4- Podemos
afirmar que, nas canções de Chico Buarque e na canção de Caetano
Veloso, é a própria voz do autor que está expressa nas canções?
♫ 5- Responda: nas canções apresentadas, quem é o eu lírico e quem é o eu biográfico (autor)?
Ao final da atividade, os alunos devem ter
interpretado e compreendido os efeitos de sentido provocados pela
representação do eu lírico feminino nas canções de Chico Buarque e
Caetano Veloso, bem como as diferentes vozes do discurso e suas
implicações para o texto. A proposta é levar para os alunos um material
diferente, que elimine as dúvidas tão comuns entre as vozes do eu lírico
e do eu biográfico. Boa aula!
INFORNATUS
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