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Capoeira Combinado |
O Brasil a partir do século XVI foi palco de uma das
maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de negros foram
trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se tornarem escravos
nas lavouras da cana-de-açúcar.Tribos inteiras foram subjugadas e obrigadas a
cruzar o oceano como animais em grandes galeotas chamadas de navios negreiros.
Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os portos finais da maior parte desse
tráfico. Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitavam pacificamente
o cativeiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se
rebelaram contra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas
dessa resistência foi quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos,
em locais de difícil acesso. Geralmente em pontos altos das matas. O maior
desses quilombos estabeleceu-se em Permambuco no século XVII, numa região
conhecida como Palmares. Uma espécie de Estado africano foi formado.
Distribuindo em pequenas povoações chamadas mocambos e com uma hierarquia onde
no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi, Palmares pode ter sido o berço
das primeiras manifestações da Capoeira. Desenvolvida para ser uma defesa, a
Capoeira foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram capturados
e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeitas, os movimentos da luta
foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que parecessem uma
dança. Assim, como no Candomblé, cercada de segredos, a Capoeira ganhou a
malícia dos escravos de "ganho" e dos frequentadores da zona
postuária. Na Cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam
arruaças nas festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante
décadas a Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se
apenas na década de 30, quando uma variação da Capoeira (mais para o esporte do
que manifestação cultural) foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas.
"C A P O E I R A R E G I O N A L B A I
A N A"
Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado) filho de Luiz
Cândido Machado e Maria Martinha do Bonfim, nasceu no bairro de Engenho Velho,
freguesia de brotas, Salvador - Bahia em 23 de novembro de 1900. Recebeu esse
apelido devido a uma aposta que sua mãe fizera com a parteira que o
"aparou". Ao contrário do que dona Martinha achava, a parteira disse
que se nascesse menino, receberia o apelido de "Bimba" pôr se tratar,
na Bahia, de um nome popular do órgão sexual masculino. Começou a praticar
capoeira aos 12 anos de idade na estrada das Boiadas, hoje o Bairro Negro da
Liberdade, com o africano Bentinho, capitão da navegação Baiana. Foi estivador
durante 14 anos e começou a ensinar capoeira aos 18 anos de idade no Bairro
onde nasceu no "Clube União em Apuros". Até 1918 não existia
esquinas, nas portas dos armazéns e até no meio do mato. Era eficaz e muito
folclorizada a capoeira da época, devido ao fato de os movimentos que eram
extremamente disfarçados, mestre Bimba resolveu desenvolver um estilo de
capoeira mais eficiente, inspirando-se no antigo "Batuque" (luta na
qual seu pai era um grande lutador, considerado até um campeão) e acrescentando
sua própria criatividade, introduziu movimentos que ele julgava necessário para
que a capoeira fosse mais eficaz. Então em 1928, mestre Bimba criou o que ele
denominou Capoeira Regional Baiana por ser esta praticada única e
exclusivamente em Salvador. A partir da década de 30, com a implantação do
Estado Novo, o Brasil atravessou uma fase de grandes transformações políticas e
culturais, onde os ideais nacionalistas e de modernização ficaram em evidência.
Nesse contexto, surge a oportunidade de Mestre Bimba fazer com que o seu novo
estilo de capoeira alcançasse as classes sociais mais privilegiadas. Em 1936
fez a 1ª apresentação do seu trabalho e no ano seguinte foi convidado pelo
governador da Bahia, o General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação no
palácio do governador onde estavam presentes autoridades e convidados. Dessa
forma a capoeira foi reconhecida como "Esporte Nacional" e
mestre Bimba foi reconhecido pela Sec. Ed. Ass. Pública ao estado da Bahia como
Professor de Educação Física e sua academia foi a 1ª no Brasil reconhecida por
Lei. O que faz com que Mestre Bimba se destacasse dos demais capoeiristas de
sua época, é que ele foi o 1º a desenvolver um sistema de ensino e a ensinar em
recinto fechado. Além desse sistema, ele elaborou técnicas de defesa Pessoal
até mesmo contra armas. Mestre Bimba preocupava-se demais com a imagem da
capoeira, não permitindo treinar em sua academia aqueles que não trabalhavam
nem estudavam. Em 1973, Mestre Bimba, por motivos financeiros, deixou a Bahia,
sob acusação de que os "Poderes Públicos" jamais haviam o ajudado.
Faleceu em Fevereiro de 1974 em Goiânia, vítima de um derrame cerebral. Mestre
Bimba foi embora, mas seus ensinamentos e seus métodos ainda inspiram e
influenciam os novos métodos de hoje em dia.
"E X A M E D E A D M I S S Ã O"
Dizia-se que em outros tempos, Mestre Bimba aplicava
uma "Gravata" no pescoço do indivíduo que quisesse treinar e dizia
"Aguenta ai sem chiar", se aguentasse o tempo que ele mesmo determinava
estaria matriculado. Mestre Bimba justificava esse critério dizendo que só
queria macho em sua academia. Mais tarde mudou os critérios, submetendo o
Candidato a fazer alguns movimentos para que ele pudesse avaliar se o
pretendente tinha condição ou não para praticar a capoeira regional. Sendo a
próxima fase aprender a "Sequência de Ensino".
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Capoeira Mortal |
"O A P R E N D I Z A D O"
O aluno nessa faze aprendia o que se chama
"Sequência de Ensino" que eram as oito sequências de movimentos de
ataque, esquivas e contra ataque destinadas somente aos iniciantes, simulando
as situações mais comuns que o aluno enfrentaria durante o jogo de capoeira.
Esse foi o 1º método de ensino criado para ensinar alguém a jogar a capoeira e
o calouro treinava essas sequências em duplas sem o acompanhamento dos
instrumentos. Quando estas estivessem decoradas o Mestre dizia: "Amanhã
você vai entrar no aço, no aço do Berimbau". Também fazia parte do
aprendizado os "movimentos de projeção" que ensinava o iniciante cair
de forma correta, sempre de pé e uma sequência com esses movimentos denominada
"cintura desprezada". Por fim, o aluno aprendia os "golpes
ligados" que eram as situações de agarramento que aconteciam em brigas de
rua. Era comum naquele tempo dizerem que o capoeirista quando agarrado, não
tinha como reagir. Então Mestre Bimba, com sua criatividade ensinava seus
alunos quais eram as melhores saídas. Todos esses ensinamentos faziam com que o
método de mestre Bimba fosse incompáravel e esse treinamento durava cerca de 3
meses, só então é que o aluno seria batizado.
"O B A T I Z A D O "
O batizado era quando o aluno jogava pela 1ª vez na
roda com o acompanhamento dos instrumentos que era formado por 1 berimbau e 2
pandeiros. O mestre escolhia o formado que jogaria com o calouro e então toca "São
Bento Grande", toque que caracterizava a capoeira regional, para isso
o calouro era colocado no centro da roda para que o formado ou o próprio mestre
desse um apelido a ele. Escolhido o "nome de guerra" todos
aplaudiam e então o mestre mandava o calouro pedir a "Benção"
do padrinho, e ao estender a mão para o formado que o batizou, receberia uma
Benção (golpe) que o jogava no chão. Era necessários pelo menos, 6 meses de
treino para se formar na Capoeira Regional. O exame era realizado em 4 domingos
seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do mestre, os alunos a serem
examinados eram escolhidos por ele. Durante 4 dias os alunos eram submetidos a
algumas situações onde teriam que mostrar os valores adquiridos durante a fase
de aprendizado, como por exemplo: força, reflexo, flexibilidade e etc.
No último domingo é que o mestre dizia quem havia sido aprovado e então
ensinava novos golpes e também marcava o dia da formatura.
"A F O R M A T U R A "
A Cerimônia iniciava com uma roda de formados antigos
para que as madrinhas e os convidados pudessem ver o que era a Capoeira
Regional. Mestre Bimba ficava ao lado do som, que era formado por 1
Berimbau e 2 pandeiros, comandando a roda e cantando as músicas características
da Regional. Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um
formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do
mestre. Após o histórico, o mestre entregava as medalhas aos paraninfos e os
lenços azuis (Graduação dos Formados) as madrinhas. O paraninfos colocava a
medalha ao lado esquerdo do peito do Formado e as madrinhas colocavam os lenços
nos pescoços dos seus respectivos afilhados. A partir dai os formados
demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua
competência, incluindo os movimentos de "cintura desprezada",
"jogo de floreto" e o "escrete" que era o jogo
combinado com o uso dos Balões. Para Terminar, chegava a hora do "Tira-medalha"
onde o recém formado jogava com um formado antigo que tentava tirar a sua
medalha com qualquer golpe aplicado com o pé. Só então depois de passar por
isso tudo é que o aluno poderia se considerar aluno formado de mestre Bimba,
tendo direito até a jogar na roda quando o mestre estivesse tocando Iuna
que era o toque criado por ele para esse fim. A partir dai só restava o curso
de especialização.
"O C U R S O D E E S P E C I A L I Z A
Ç Ã O "
Tinha duração de 3 meses, sendo 2 na academia e 1 nas
matas da Chapada do Rio Vermelho. Tratava-se de um treinamento de
guerrilha, onde aconteciam as emboscadas, armadilhas e etc., que consistia em
submeter o formado a situações das mais difíceis, desde defender-se de 3 ou
mais Capoeiristas, até defender-se de armas. Terminando o curso, o mestre fazia
a mesma festa para os novos especializados, e estes recebiam o lenço vermelho
que representava a nova graduação. O aluno que se formava ou se especializava,
tinha a obrigação de pendurar um quadro com a foto do mestre, do padrinho, do
orador, e a própria foto.
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