domingo, 25 de janeiro de 2015

A História do Rei do Cangaço no Nordeste Brasileiro

Lampião e Maria Bonita
Era numa madrugada de 28 de julho de 1938, quando o Nordeste sentiu o sangue derramado do Rei do Cangaço jorrar pelo solo abrasado. Foi nesse dia que uma ''volante''(como eram chamadas as incursões policiais caçando os temidos cangaceiros), comandada pelo Tenente João Bezerra, na fazenda Angicos, localizada no sertão de Sergipe, terminou com as chances de Lampião, sua mulher Maria Bonita, oito homens do bando e uma mulher de um dos seus companheiros, de escaparem com vida.

Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de julho de 1897, em Serra Talhada-PE. Ajudava a família com artesanatos, era alfabetizado e usava sempre seus óculos para ler. O apelido famoso veio pelo fato dele ter mudado a estrutura de um velho fuzil, fazendo que a arma tivesse um poder de fogo mais forte. Quando atirava com esse fuzil, o cano esquentava a ponto de brilhar e parecer de longe um ''lampião aceso''.

Sua entrada na vida violenta deu-se em 1919: seu pai foi morto pela polícia, numa época de divergências e brigas com famílias locais. Com esse ocorrido e tomado pelo desejo de vingança, foi recrutando homens pelo sertão com o mesmo propósito, tomando o lugar do antigo cangaceiro Antônio Silvino, vazio desde 1914. Mesmo acusado de crimes como roubos, assaltos, assassinatos, saques e sequestros, esse histórico homem tem a imagem (para muitos) de um Robin Hood do sertão nordestino: Suas ações de roubar e saquear políticos, coronéis e ricos fazendeiros para distribuir entre os sertanejos à beira da miséria traziam aos milhares de sertanejos famintos a chance de se sobreviverem à seca e o domínio dos donos de terras.

Em 1926, como devoto e respeitador das palavras e conselhos de Padre Cícero, foi nos arredores de Juazeiro do Norte, onde conheceu o Padre. (Há estudos que confirmam o histórico encontro. Porém, nessa conversa, o Padre Cícero não tinha dado nenhuma patente ao agora ''capitão Virgulino'', mas diversos conselhos para sair da vida cangaceira. Quem deu a patente, dizem os historiadores que ainda estudam o fato, foi um servidor federal da cidade de Juazeiro, por ser a única autoridade federal da região. Na época, para enfrentar a coluna de Prestes, o governo entrara em contato com o bando, que ganhou armamento, dinheiro e teriam anistia no fim da missão de combatê-los. Deu em nada: Lampião fugiu de novo, sem enfrentar a coluna de Luís Carlos Prestes).

No dia 28 de julho de 1938, um homem que era o ‘’coiteiro’’( homem que dava asilo e informações ao bando) foi preso pela polícia. Torturado, falou onde Lampião estava escondido. 50 soldados da Polícia Militar partiram de Piranhas (Alagoas) para a Fazenda Angicos, em Sergipe. Os fuzis e metralhadoras pegaram de surpresa Lampião e seu bando. A última batalha do rei do Cangaço durou meia hora. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram no lugar. A Polícia, ao ver o chefe do cangaço morto, decepa sua cabeça. Maria Bonita ainda estava ferida e foi degolada viva. Luis Pedro, Moeda, Enedina, Alecrim, Elétrico, Colchete e Macela também terminaram com suas cabeças arrancadas pela volante. Já Quinta-Feira e Mergulhão foram os únicos que tiveram suas cabeças cortadas ainda com vida. Em um momento de extremo ódio e alegria pelo feito, um policial desfigurou cabeça de Lampião, quando bateu nela com a coronha do seu fuzil. Esse fato contribuiu a lenda que Lampião tinha escapado, pela grande diferença da fisionomia do Rei do Cangaço.

Os cadáveres decapitados foram exibidos como prêmios e passaram em várias cidades nordestinas. a cabeça de Maria Bonita e a de Lampião permaneceram expostas no Museu da Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador, por quase 30 anos. Só em fevereiro de 1969, foram sepultadas. Com a morte de Lampião, a coroa do Cangaço passa para o cangaceiro Corisco (Diabo Louro) e sua mulher Dadá, que retomam o cangaço no Nordeste em 1939.

Heroi ou Bandido, Lampião ainda continua sendo um dos expoentes da cultura do Nordeste brasileiro e de um valor inestimável para nossa história, música, folclore e sabedoria popular.
 
 
 
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