Imagem: infoescola.com |
Os rios sempre foram instrumento de
desenvolvimento. Desde a antiguidade, as civilizações se reuniam em suas
margens e, gozando de seus benefícios, formavam pequenas vilas e então,
cidades. Ainda hoje, muitas pessoas dependem dele para sua sobrevivência. No
entanto, com a falta de planejamento urbano e crescimento descomedido das
cidades, muitos dos principais rios mundiais estão drasticamente poluídos, o
que, como citei no texto do Dia Mundial das Águas, acarreta inúmeras doenças e, conseqüentes,
mortes. Jovem à procura de algo para vender no Citarum, rio mais poluído do
mundo.
Segundo a WWF, 5 rios que servem 870 milhões de
pessoas na Ásia estão entre os 10 mais ameaçados do mundo. E desses citarei o
Citarum, na ilha de Java, na Indonésia e o mais conhecido por nós (ao menos por
nome, thanks Globo), o Ganges, na Índia. O primeiro recebe o infeliz título de
mais poluído do mundo. Muitas indústrias, principalmente as têxteis, que
começaram a fixar-se à beira do rio a partir da década de 80, passaram a
despejar seus dejetos químicos sem nenhum tratamento no Citarum que, somados
aos dejetos humanos e todo o tipo de lixo doméstico, tornou-se morto e tóxico.
Sem nenhum tipo de tratamento ou coleta de lixo, ele é o destino e “solução”
dos problemas do povo dessa ilha, que ainda usa a água para beber, lavar e
plantar.
Já o Ganges (ou Benares), ao norte da Índia e
Bangladesh, tem uma história um pouco diferente. Ele atravessa 9 estados e
influencia a vida de 300 milhões de pessoas, das quais 20 milhões estão
dispostos em suas margens. O rio tem uma grande importância para esta
população, pois é dele que é retirada água e os alimentos que consomem. Para os
indianos, os rios são como divindades e o Ganges é o mais sagrado deles. Os
seguidores do Hinduísmo (mais de 80% da população indiana) acreditam que
banhar-se em suas águas é sinal de purificação dos pecados. E talvez essa seja
a diferença entre o que acontece na Índia e em outros países.
Além dos dejetos industriais e domésticos (89
milhões de litros de esgoto são jogados no rio todos os dias), dos
fertilizantes e pesticidas usados na agricultura (43% de toda irrigação na
Índia é baseada às margens do rio) e do lixo em geral, a questão religiosa
também contribui para o seu deterioramento. Diariamente, 2 milhões de pessoas
banham-se no rio em busca dessa purificação. Porém, banhar-se, em si, não é o
problema. E sim o que os crentes acabam fazendo em nome de sua fé. É comum ver
corpos humanos e de animais boiando ao longo do rio. Os adultos são queimados
em uma fogueira e então têm suas cinzas jogadas no rio sagrado. Já as crianças
(e grávidas), consideradas puras, têm pedras amarradas aos pés e então são
lançadas no meio do rio. Não obstante, animais como vaca – símbolo sagrado –
também têm o mesmo destino. Assim, convivem os corpos fétidos (humanos e animais),
as cinzas
de mortos, os pescadores, as pessoas que lavam roupa, os crentes
se banhando, as crianças que brincam, e a imensa quantidade de lixo,
como plásticos, resíduos químicos e sanitários. Peregrinos acreditam que as
águas do Ganges dispõem de um poder especial de absolvição dos pecado.
Eu conversei com alguns amigos indianos, o Tarun
Sharma e Rahul Acharya, e foi bem interessante ver o que eles pensam a
respeito. Eles me falaram de como a questão religiosa é forte e como as pessoas
acabam sendo induzidas a realizar determinadas ações. Ambos concordam que a
Índia é um país muito corrupto, não só politicamente, mas também em relação a
religião. Há muito aquele discurso de garantir um lugar junto aos deuses
através de determinados rituais – como jogar corpos e as cinzas no rio. Há centenas
de anos que os indianos seguem estes costumes, não seria agora, em poucas
décadas, que eles deixariam de praticá-los. É como se eles não vissem além da
religião e, tanto Tarun, quanto Rahul, me disseram que na própria religião os
interesses financeiros falam mais alto. Além disso, acordos entre empresas e
políticos, e a falta de vontade do Governo faz com que, mesmo aqueles 2% ou 3%
interessados em ajudar, como me disse o Tarun, não tenham espaço para defender
o rio. É o exemplo do grupo EcoFriends, que realizam ações nada fáceis, como
podem ver nas imagens de retirada de corpos do rio.
Corpo
boiando no Ganges e, ao fundo, pessoas banhando-se e lavando roupa
tranquilamente, são ações constantes. Em verdade, a despoluição do Ganges não é
assunto novo. Em 1986, foi lançado o Ganga
Action Plan, que tinha por objetivo conservar a biodiversidade,
diminuir a poluição e aumentar a qualidade de água. Obviamente, ele falhou.
Como disseram meus amigos indianos, não adianta nenhuma ação sem primeiro mudar
as atitudes. Por outro lado, o Governo não fará nada por ele só, é preciso
cobrança. Infelizmente, a poluição do meio ambiente é um presente (de grego) do
desenvolvimento industrial e do boom populacional, aliado à falta de
planejamento urbano e condições miseráveis de vida. Como o Tarun, eu espero um
dia poder ver essa realidade mudando e isso só depende daquilo que fazemos
hoje.
As Imagens abaixo, mostram á realidade ás margens do rio Ganges. ( Imagens Fortes)
Imagens: http://www.uhull.com.br/01/30/india-isso-voce-nao-vai-ver-na-globo-e-claro-imagens-chocantes/
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