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A cidade de Jerusalém é um dos
locais mais relevantes do mundo justamente por ser a cidade sagrada de três
religiões: cristianismo, islamismo e judaísmo.
Por esse motivo também, é um local alvo de tensões e disputa constantes entre
israelenses e palestinos, já que ambos reivindicam o direito de a cidade ser
nomeada a sua capital. Em razão da importância histórica da cidade, o objetivo
deste texto é narrar alguns dos acontecimentos que envolveram a história de
Jerusalém.
Fundação de Jerusalém
Os historiadores não sabem ao certo o momento em
que a cidade de Jerusalém foi criada, mas as primeiras evidências encontradas
na cidade pelos arqueólogos remontam a 3200 a.C. A escritora Karen Armstrong
afirma que outras cidades canaanitas surgiram por volta dessa época, porém não
existem evidências conclusivas sobre o surgimento de Jerusalém nesse período.Os historiadores não possuem nenhum conhecimento da
trajetória da cidade de Jerusalém durante o crescimento das cidades cananeias,
mas se sabe que, no século XX a.C., a região de Canaã passou para o domínio
político e econômico dos egípcios.
Foram encontrados vestígios dessa época de muralhas construídas nas bordas da
cidade.
A primeira menção à cidade de Jerusalém de que se
tem conhecimento foi encontrada em 1925, no Egito. Essa menção foi localizada
em uma série de vasos egípcios que fazem menção à Jerusalém, chamando-a de Rushalimum.
Esses vasos egípcios eram parte de um rito com o objetivo de amaldiçoar
Jerusalém.Karen Armstrong afirma que o nome Rushalimum
sugere a influência da religião síria sobre Jerusalém, pois, apesar de os
cananeus estarem sob influência egípcia, a religião era de influência da Síria.
O significado da palavra é “Shalem fundou”, sendo Shalem um dos
principais deuses da mitologia cananeia.
Entre os séculos XVIII a.C. e XIV a.C., os
historiadores não sabem muito bem o que se passou na cidade e muitos acreditam
que ela possa até ter ficado vazia nesse período. No século XV a.C., a região
de Canaã foi invadida pelos hurritas, um povo da Mesopotâmia que passou a
exercer alguma influência sobre Jerusalém. Os documentos apontam que o
governante de Jerusalém foi um homem com nome hurrita: Abdi-Hepa.Nesse período, os interesses dos egípcios por Canaã
diminuíram consideravelmente, e as diversas cidades-estado da região começaram
a lutar entre si. Foi nesse contexto de lutas internas e enfraquecimento dos
egípcios é que os jebuseus estabeleceram-se em Jerusalém. Isso ocorreu
por volta dos séculos XIII e XII a.C.
Os jebuseus controlaram a cidade de Jerusalém, que
chamavam de Jebus, até por volta de 1000 a.C., quando Davi, liderando os
hebreus e
o Reino de Israel, conquistou a cidade e transformou-a na capital de seu
império.
Jerusalém sob domínio estrangeiro
Com a conquista de Jebus, Davi nomeou a cidade
como Ir Davi (Cidade de Davi) e decidiu construir um grande templo para que a Arca
da Aliança, objeto sagrado para os hebreus, fosse depositada. Esse
feito só foi realizado por Salomão, filho da Davi, que concluiu a construção do
chamado Templo de Salomão em 950 a.C. Esse foi o período de
maior prosperidade do Reino de Israel.Depois que Salomão morreu, a cidade de Jerusalém
passou para as mãos de diferentes povos. A sucessão de povos que controlaram
Jerusalém foi de assírios,
caldeus e persas. A
conquista de Jerusalém pelos caldeus, inclusive, foi a responsável pela
destruição do Templo de Salomão em 586 a.C.
Depois que os persas conquistaram os caldeus, os
hebreus foram permitidos a reconstruir o seu templo, obra que foi concluída em
515 a.C. Depois dos persas, Jerusalém passou para as mãos dos macedônios
e, quando Alexandre, o Grande, morreu, em 323 a.C., a Palestina (região na qual
Jerusalém está inserida) passou a ser disputada por ptolomeus
e selêucidas.No século II a.C., uma rebelião na Palestina fez
com que a região fosse governada por uma dinastia independente de judeus: a dinastia
asmoneia, que se estendeu de 167 a.C. a 40 a.C. Nesse período, os romanos
exerciam grande influência na região, mas ainda não controlavam de fato a
Palestina. De 40 a.C. a 37 a.C., os partos controlaram parte
da Palestina e, a partir de 37 a.C., os romanos oficialmente conquistaram a
Palestina e Jerusalém, quando Herodes liderou um cerco contra
a cidade.
O domínio romano sobre a Palestina e Jerusalém
foi bastante conturbado. Destacam-se duas revoltas de judeus em Jerusalém que
causaram grandes guerras contra os romanos. Em 70 d.C., os romanos cercaram a
cidade por seis meses. O resultado final dessa guerra, segundo o historiador
Piers Paul Read, foi a quase dizimação da população de Jerusalém3.
Outra guerra entre judeus e romanos ocorreu em 134 d.C., e os romanos
decretaram a expulsão de todos os judeus de Jerusalém.
Jerusalém na Idade Média
A cidade de Jerusalém esteve sob domínio dos
romanos até a quedado Império Romano do Ocidente em 476 d.C. Depois disso, os bizantinos
(herdeiros do Império Romano) ficaram no controle da cidade. O domínio dos
bizantinos sobre Jerusalém foi desafiado pelos sassânidas, que
a conquistaram em 614, permanecendo lá até 628, quando os bizantinos retomaram
o controle.Pouco tempo depois, em 637, a cidade de Jerusalém
foi cercada pelas tropas do Califado Ortodoxo, que eram
lideradas pelo califa Omar. Com o cerco, Jerusalém rendeu-se sem oferecer
resistência ao califa Omar, que permitiu que cristãos e judeus continuassem com
suas vidas e religião desde que pagassem um imposto.
Essa liberdade de culto dada a cristãos e judeus
em Jerusalém foi garantida até o século XI. Foi somente no século XI que surgiu
um califa que promoveu grande perseguição contra judeus e cristãos. O califa
egípcio al-Hakim ordenou “a destruição de todas as igrejas
cristãs em seu domínio, entre elas a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém,
cuja reconstrução foi autorizada por seu sucessor”.
Foi nesse século que começaram a surgir na Europa
ideias que defendiam a necessidade de se conquistar a Palestina, entendida como
“Terra Santa”. Os cristãos europeus entendiam que era
necessário conquistar a Palestina para garantir o trânsito de peregrinos que
iam visitar Jerusalém, mas também era uma forma de, como coloca Paul Piers
Read, “dar vazão ao excesso de energia da classe guerreira franca.” Desse sentimento, saiu o anúncio do papa
Urbano II para as Cruzadas, em
1095. Da convocação de Urbano II, iniciou-se a PrimeiraCruzada (foram nove Cruzadas ao todo). Quatro anos depois da convocação de
Urbano II, os exércitos cristãos chegaram em Jerusalém com o objetivo de conquistá-la.
O ataque contra Jerusalém pelo exército cruzado
iniciou-se em 13 de julho de 1099. O governante da cidade, que havia sido
nomeado pelos fatímidas, era Iftikhar al-Dawla. Ele não
conseguiu repelir o ataque cristão e só saiu com vida de Jerusalém porque
entregou o tesouro da cidade em troca de um salvo-conduto para fugir.O restante da população de Jerusalém não teve
essa sorte, pois o ataque cristão ficou marcado pela barbárie. Os cristãos
promoveram um grande massacre nas ruas de Jerusalém, matando tanto judeus
quanto muçulmanos. A cidade de Jerusalém ficou sob controle dos cristãos até
1187, quando os muçulmanos reconquistaram Jerusalém sob a liderança de Saladino,
líder dos aiúbidas.
A sucessão dos acontecimentos fez com que os
cristãos retomassem o controle de Jerusalém em 1229, quando o sultão do Egito,
al-Kamil, assinou um acordo com Frederico II, rei do SacroImpério Romano-Germânico. Nesse acordo, ambos os lados concordavam em
assinar uma trégua de 10 anos, e a cidade de Jerusalém retornaria ao controle
dos cristãos, que, por sua vez, não poderiam reconstruir as muralhas da cidade,
destruídas anos antes.Em 1244, porém, a cidade caiu novamente nas mãos
dos muçulmanos, quando os turcos invadiram a Palestina quando fugiam dos
mongóis. Por causa dessa invasão, a Palestina caiu novamente nas mãos dos
aiúbidas. Em 1260, foram os mamelucos que conquistaram a
cidade, dominando-a até 1517. Posteriormente, os otomanos,
um império surgido na Turquia, conquistaram e controlaram-na até 1917.
Jerusalém no conflito árabe-israelense
Durante 400 anos, a cidade de Jerusalém foi parte
do Império Otomano. Esse domínio só teve fim com os desdobramentos da PrimeiraGuerra Mundial. Nesse conflito, que se estendeu de 1914 a 1918, os otomanos
aliaram-se com a Alemanha e lutaram contra os ingleses.Com a derrota, o Império Otomano foi fragmentado, e
a Palestina foi entregue ao domínio dos britânicos. De 1917 até 1920, a região
foi ocupada por tropas britânicas. Em 1920, oficializou-se a criação da Palestina
Britânica. Os atuais problemas entre árabes e israelenses surgiram nesse
período.
Para que você possa entender melhor a disputa
árabe-israelense, é preciso compreender o que representa o sionismo
e qual o seu papel nesse conflito. O sionismo foi uma ideologia que surgiu no
final do século XIX por meio de um jornalista húngaro chamado Theodor Herzl.
Essa ideologia defendia a criação de um Estado nacional para os judeus na
Palestina em resposta ao crescente antissemitismo
que existia na Europa.
Com o sionismo, a comunidade de judeus passou a se
organizar, arrecadar fundos e a atuar politicamente na defesa da criação de um
Estado judeu na Palestina. Por causa disso, milhares de judeus passaram a se
mudar para a Palestina e, naturalmente, para Jerusalém. Os judeus já eram a
maioria em Jerusalém desde o século XIX, mas, com o sionismo, o número de
judeus na cidade disparou. Veja alguns números que exemplificam isso:
Ano
|
Muçulmanos
|
Cristãos
|
Judeus
|
1850
|
5350
|
3650
|
6000
|
1922
|
13500
|
14700
|
34400
|
Aqui fica perceptível a disparidade no crescimento, pois, enquanto a população muçulmana (em grande parte de origem árabe) aumentou 2,5 vezes em um período de 72 anos, a população judaica aumentou quase 6 vezes no mesmo período. O domínio britânico na região só agravou a crescente tensão, uma vez que autoridades britânicas haviam garantido a criação de um Estado nacional tanto para os árabes palestinos quanto para os judeus.
É importante considerar que a Palestina permaneceu
sob domínio turco (turcos não são árabes) durante 400 anos e, quando esse
domínio chegou ao fim, a população árabe da Palestina esperava que seu Estado
nacional surgisse. Isso não aconteceu porque os britânicos tomaram a
administração da Palestina para si e não criaram um Estado nacional nem para
árabes nem para judeus.
A situação entre árabes e judeus na Palestina e
Jerusalém continuou agravando-se ao longo das décadas de 1920 e 1930. Os árabes
organizaram-se em um movimento nacionalista liderado por Hajj Amin
al-Husseini, o mufti de Jerusalém (maior autoridade religiosa dos
muçulmanos da cidade). Os árabes não aceitavam dividir a terra, pois alegavam
ter o direito na região por serem os habitantes originários dali.
A violência na relação entre
árabes e judeus aumentou consideravelmente, e os judeus chegaram a formar
grupos para organizar atentados terroristas – como foi o caso do Irgun.
Os ingleses, incapazes de controlar a disputa entre árabes e judeus, entregou o
domínio da Palestina para a Organização dasNações Unidas (ONU) em 1947.A gestão da ONU decidiu em assembleia realizada
em 1947 que a Palestina seria dividida em duas regiões: 53,5% do território
seria de Israel e 45,4% do território seria dos palestinos, para a criação da
Palestina7. A cidade de Jerusalém,
disputada por ambos, ficaria sob gestão internacional.
Quando foi oficializada a fundação do
Estado de Israel, uma junção de países árabes declarou guerra aos
israelenses e deu início à Primeira
Guerra Árabe-Israelense. A declaração de guerra aconteceu porque os árabes
não aceitaram a divisão da Palestina estabelecida pela ONU. As forças
israelenses e árabes lutaram em pé de igualdade, mas os israelenses
sobressaíram-se e ampliaram consideravelmente seu território.
Durante essa guerra, Jerusalém – então sob gestão
internacional – foi invadida por tropas jordanianas e israelenses,
que lá permaneceram por anos. Com o fim da guerra, Jerusalém permaneceu
dividida entre jordanianos e israelenses mesmo com os protestos realizados pela
ONU. A derrota e a violência dos exércitos israelenses fizeram milhares de
palestinos abandonarem a região. Os árabes palestinos que permaneceram em Jerusalém,
porém, nunca concordaram com o domínio dos jordanianos.
Nessa divisão, os israelenses estabeleceram-se na
Jerusalém Ocidental, e os jordanianos
estabeleceram-se na Jerusalém Oriental. Essa
divisão permaneceu até 1967, quando ocorreu a Guerrados Seis Dias. Essa guerra ficou conhecida pela fulminante vitória que as
tropas israelenses obtiveram dos árabes. A porção oriental da cidade foi tomada
pelos israelenses e, desde então, Jerusalém tem estado sob a administração do
Estado de Israel.
Qual é a capital de Israel: Jerusalém ou Tel Aviv?
Atualmente o Estado de Israel considera a cidade
de Jerusalém como sua capital, embora a comunidade internacional considere que
a capital de Israel seja Tel Aviv. A questão do reconhecimento
internacional de Jerusalém como capital de Israel é delicada, uma vez que a
cidade também é reivindicada como capital da Palestina, Estado não reconhecido
internacionalmente.
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