Ramsés II |
Ramsés II
foi o terceiro faraó
da XIX dinastia egípcia, uma das dinastias que
compõem o Império Novo. Reinou entre aproximadamente 1279 a.C. e
1213 a.C. O seu reinado foi possivelmente o mais prestigioso da história
egípcia tanto no aspecto económico, administrativo, cultural e militar. Foi também
um dos mais longos reinados da história egípcia. Houve 11 Ramsés no reino do
Egito, mas apenas ele foi chamado de Ramsés, o Grande.
Ramsés II era filho do faraó Seti I e da
rainha Touya. A família de Ramsés não era de origem nobre: o seu avô, Ramsés I,
era um general de Horemheb, o último rei da XVIII dinastia que o nomeou seu sucessor.Aos dez anos Ramsés recebeu o título de
"filho primogénito do rei", o que correspondia a ser declarado
herdeiro do trono. Seu pai introduziu-o no mundo das campanhas militares quando
era ainda adolescente e Ramsés acompanhou-o contra os Líbios e em campanhas em
Canaã e Sinai.Julga-se que pelo menos dez anos antes da morte
do pai, Ramsés já era casado com Nefertari e Isitnefert.
A primeira seria a mais importante e célebre das várias esposas que Ramsés teve
na sua vida, tendo sido a grande esposa real até sua morte, no ano 24 do
reinado de Ramsés. Nefertari, que possui o túmulo mais famoso do Vale
das Rainhas, deu à luz o primeiro filho de Ramsés, Amenófis, conhecendo-se
pelo menos mais três filhos e duas filhas de ambos. As pesquisas documentam
seis filhos com Nefertari.
Isetnefert é menos conhecida que Nefertari,
estando sua presença melhor atestada no Baixo
Egipto. Com ela, Ramsés teve um filho que partilhava o seu nome, para além
dos príncipes Khaemuaset e Merneptá
(este último tornou-se seu sucessor devido à morte prematura dos filhos mais
velhos de Ramsés). Khaemuaset foi sumo-sacerdote de Ptah na cidade de
Mênfis e foi responsável pela organização das festas Sed celebradas em honra do
pai. A festa Sed celebrava-se em geral no trigésimo aniversário de reinado do
faraó e visava simbolicamente regenerar o seu poder; sabe-se que Ramsés
celebrou catorze festas deste tipo, a primeira no ano 30, as seguintes num
intervalo de cerca de três anos e no final da sua vida celebrou várias
praticamente a cada ano. Khaemuaset era um amante de antiguidades e dedicou-se
a mandar restaurar vários edifícios. Foi também responsável por mandar
construir galerias subterrâneas em Sakara, onde eram sepultados os bois de Ápis.
Ramsés foi também casado com sua irmã mais nova
Henutmiré (segundo alguns autores seria sua filha em vez de irmã) e com três
das suas filhas, Meritamon, Bentanat e Nebet-taui. Após a paz com os hititas, Ramsés
recebeu uma filha do rei Hatusilli III como presente. Com
ela casou no ano 34 do seu reinado. Seu nome hitita é desconhecido, mas sabe-se
que adoptou o nome egípcio de Maathorneferuré.
Sete anos depois desse casamento, esposou outra princesa hitita, sobre a qual
nada se sabe.Ramsés sucedeu ao pai em 1279 ou 1278. No plano
internacional os hititas,
que viviam no que é hoje a Turquia, surgem como rivais do império egípcio no corredor
sírio-cananeu. No ano 4 do seu reinado, Ramsés conduz uma
expedição militar exploratória que alcança a Fenícia. No rio Cão, perto da moderna Beirute, manda
erguer um estela, cujo texto é hoje ilegível.No ano seguinte inicia-se a guerra propriamente
dita com os hititas. Ramsés atravessa a fronteira egípcia em Sila e um mês depois chega aos
arredores da cidade de Kadesh, perto do rio Oronte, com o objectivo de
expulsar os hititas do norte da Síria.
O exército egípcio estava dividido em quatro
unidades, que receberam o nome de um deus da mitologia egípcia: Amon, Ré, Ptah e Set. O exército
aguardou nos arredores de Kadesh, desejoso por cercar a cidade. Dois hititas
que se apresentam como desertores (mas que na realidade eram espias), enganam
os egípcios, afirmando que os hititas ainda estão bem longe de Kadesh. Ramsés
decide então avançar com a unidade Amon que lidera, desconhecendo que os hititas
estavam escondidos a leste de Kadesh. Subitamente, a unidade Amon é cercada
pelos hititas. Segundo o relato egípcio, o "Poema de
Kadesh" gravado nas paredes dos templos de Karnak, Luxor, Abidos,
Abu Simbel
e no Ramesseum,
Ramsés é abandonado pelos soldados e, sozinho na sua carruagem, fica frente a
frente dos hititas. O rei, desolado por ter sido abandonado, faz uma prece a
Amon, lamentando-se por seu destino. Amon escuta sua prece e Ramsés
transforma-se em guerreiro todo-poderoso que enfrenta completamente sozinho os
hititas. A realidade, porém, encontra-se distante desse
relato irreal ao serviço da propaganda faraónica. Julga-se que os egípcios foram
obrigados a recuar, não tendo tomado Kadesh, mas os reforços chegaram a tempo
de o salvar.
Nos próximos anos do reinado continuam os
combates com os hititas na Síria
Palestina. No ano 16 do reinado de Ramsés, Mursili III, filho mais novo de Muwatalli
II, foi deposto pelo seu tio Hatusilli III. Após várias
tentativas de recuperar o trono, Mursili foge para o Egipto. Hatusilli III
exigiu a sua deportação imediata, mas como essa foi recusada por Ramsés, os
hititas mantinham mais um motivo para continuar com sua hostilidade. No ano 21 do reinado de Ramsés, um tratado de paz
procurou terminar o conflito. Esse tratado é conhecido nas suas duas versões, a
hitita, escrita em tabuinhas de argila em cuneiforme babilónio e encontrada em Boghaz-Koi e a
egípcia, gravada em duas estelas em Tebas. As razões para o tratado estariam
relacionadas não só com a não resolução do conflito, mas também com o receio
que gerava a ascensão da Assíria. Nos termos do tratado os dois impérios prometem
ajudar-se em caso de agressão externa e dividem zonas de influência: Canaã e
Sinai ficam sob domínio egípcio e a Síria, para os hititas.
Ramsés é o faraó que
deixou o maior legado em termos de monumentos. O soberano apropriou-se de obras
de faraós do passado (incluindo dos faraós do Império
Antigo, mas sobretudo do faraó Amenófis
III), que apresentou como suas, mandou concluir edifícios e lançou as suas
próprias obras. Entre as obras concluídas por Ramsés II encontram-se a sala
hipóstila do templo de Karnak em Tebas e o templo funerário do seu pai em Abidos.
Foi também Ramsés um dos responsáveis pela destruição dos templos da cidade de Amarna, que eram os
últimos vestígios da era de Aquenáton,
faraó que pretendia fazer de Aton a divindade suprema. Os blocos de pedra destas estruturas
foram reutilizados na cidade de Hermópolis Magna, situada na margem oposta de
Amarna.
Pi-Ramsés
ou Per-Ramsés ("A Casa de Ramsés") foi a capital do Egipto durante o
reinado de Ramsés e até ao fim da XX dinastia. Não foi descoberta até ao momento
a localização exacta da cidade, mas sabe-se que era na região oriental do Delta. A cidade foi erguida sobre uma aglomeração
fundada por Seti I no começo do reinado de Ramsés. Para lá são transferidos obeliscos e
nela se erguem templos dedicados às principais divindades egípcias, como Amon,
Ré e Ptah. Dois séculos depois as suas estátuas e obeliscos da cidade foram
transferidas para Tânis, a nova capital da XXI dinastia. As razões que explicam esta mudança de capital
são as raízes familiares do faraó na região do Delta, para além da sua
localização estar mais próxima do principal centro de intervenção militar desta
época, a Síria-Palestina, que separava o Egito dos hititas. Na Núbia Ramsés
mandou construir vários templos. Dois dos mais famosos, escavados na rocha, encontram-se em Abu Simbel, perto da segunda catarata do Nilo.
O maior destes dois templos (Grande Templo ou
Templo de Ramsés) penetra sessenta metros na rocha. É dedicado a Ramsés,
associado a Amon-Ré, Ptah e Ré-Horakhti). Possui na entrada quatro estátuas de
Ramsés com mais de 20 metros de altura, que o retratam em diferentes fases da
sua vida. Passada a entrada do templo encontra-se um sala hipóstila onde se
acham oito estátuas de Osíris. A versão egípcia da Batalha de Kadesh está
representada no templo. O segundo templo (Pequeno Templo), a norte do Grande
Templo, é dedicado a Nefertari (associada a Hathor). Na sua
fachada encontram-se quatro estátuas de Ramsés e duas de Nefertari. Em 2013, durante escavações a leste do Grande
Templo, uma equipe de arqueólogos egícios e alemães descobriu uma estátua de
Ramsés II, no templo da deusa Bastet, com 1,95 m de altura e 1,60 m de largura,
de granito vermelho. Na parte trazeira da figura, há hieroglifos com o nome de
Ramsés II. O templo de Bastet está localizado na colina de Bubastis, um dos
sítios arqueológicos mais antigos do país, a cerca de 85 km a noroeste do
Cairo, onde foram descobertos objetos que datam da IV dinastia (de 2630 a 2500
a.C.). Além da estátua de Ramsés II, os arqueólogos encontraram a estátua de um
alto funcionário do governo egípcio do período da dinastia XIX, com 35 cm de
altura, feita de arenito.
Abu Simbel permaneceu soterrada pelas areias do
deserto até 1812,
ano em que foi descoberta por Jean-Louis Burckhardt. A
construção da grande barragem de Assuão alterou o nível das águas do Nilo,
razão pela qual os templos foram desmontados, cortados em 1036 blocos e
montados num local mais alto entre os anos de 1964 e 1968, numa campanha
internacional promovida pela UNESCO. Em Uadi es-Sebua Ramsés mandou
construir um novo templo dedicado a Ré e a si próprio. Na direcção dos
trabalhos esteve Setau, vice-rei da Núbia, que recrutou homens das tribos
locais para a construção. No mesmo local Ramsés ordenou a reconstrução de um
templo erguido por Amenófis III que fora danificado durante a era de
Amarna. O templo funerário de Ramsés é conhecido como o Ramesseum.
Situado na margem ocidental de Tebas
estava dedicado ao deus Amon e ao próprio faraó, encontrando-se hoje num estado
bastante deteriorado. O templo era famoso pela estátua colossal de Ramsés em
posição sentada (da qual apenas restam fragmentos). Nas paredes do templo foram
representados eventos como a Batalha de Kadesh e a celebração da festa do deus
Min, assim como uma procissão dos numerosos filhos do faraó. No local foi
descoberto um papiro que continha a obra literária "Conto do Camponês
Eloquente" e textos de carácter médico.
Ramsés faleceu no ano 67 do seu reinado, quando
já teria mais de noventa anos. O Egipto conseguiu continuar a exercer controle
sobre Canaã e Sinai até a parte final da XX dinastia. O túmulo de Ramsés foi construído no Vale
dos Reis (KV7), necrópole
de eleição dos faraós do Império Novo, tendo sido preparado pelo seu vizir do
sul, Pasar. Embora seja maior que o túmulo do seu pai, o túmulo não é tão
ricamente decorado e encontra-se hoje danificado. Do seu espólio funerário
restam poucos objectos, que estão espalhados por vários museus do mundo. A múmia do faraó
foi encontrada num túmulo colectivo de Deir
el-Bahari no ano de 1881.
Em 1885 a múmia foi
colocada no Museu Egípcio do Cairo onde permanece
até hoje. Em 1976 a
múmia de Ramsés realizou uma viagem até Paris onde fez parte
de uma exposição dedicada ao faraó e onde foi sujeita a análises com raios X. Na
capital francesa uma equipe composta por cento e dez cientistas foi responsável
por tentar descobrir as razões pelas quais a múmia se degradava progressivamente.
Os cientistas atribuíram esta degradação à acção de um cogumelo, o Daedela
Biennis, que foi destruído com uma irradiação de gama de cobalto 60. As
análises revelaram que Ramsés sofria de doença dentária e óssea.
Como se fazia no Antigo
Egito, Ramsés tinha um série de nomes que compunham a sua titulatura. Ramsés é o seu nome de
nascimento e significa "nascido de Rá" ou
"filho de Rá". O seu prenome, isto é, o nome que este assumiu quando
se tornou faraó foi Usermaet-rá Setepenrá,
o que é traduzido como "Poderosa é a justiça de Rá - Escolhido por
Rá".
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