Teresina Piauí |
A conquista do território do
Piauí processou-se graças à expansão das fazendas de gado, a partir das
existentes no vale do São Francisco. Tão ligada ficou a imagem do gado aos
campos piauienses, durante séculos, que no auto popular, quando o boi morria,
logo vinha o refrão consolador: "Vamos buscar outro, ó maninha, lá no
Piauí."
Situado na região Nordeste, na
transição entre a Amazônia, o sertão semi-árido e os chapadões do Brasil
central -- e com mais de quatro quintos de sua área incluídos no Polígono das
Secas --, o estado do Piauí abrange uma área terrestre de 251.273km2. Limita-se
ao norte com o oceano Atlântico, a oeste com o Maranhão, a sudoeste com o
Tocantins, ao sul com a Bahia e a leste com Ceará e Pernambuco. Sua capital é
Teresina.
Geografia física
Geologia e relevo. O Piauí
apresenta relevo modesto, com topografia regular. Cerca de 92% do território se
acham abaixo de 600m de altitude e 53% abaixo de 300m. Quatro unidades compõem
o quadro morfológico: a baixada litorânea, o planalto de chapadas e cuestas, a
planície do rio Parnaíba e o pediplano cristalino.
A baixada litorânea, no norte do
estado, compreende uma faixa de terrenos arenosos e baixos, dominados por
tabuleiros areníticos. Sua porção ocidental é formada pelo delta do rio Parnaíba.O planalto de chapadas e cuestas
corresponde à parte oriental da bacia sedimentar do Meio-Norte. Na parte
central do estado, as camadas geológicas apresentam disposição horizontal e
formam chapadas com altitudes que vão de 300 a 600m. Na parte oriental, as
camadas apresentam-se inclinadas e formam cuestas, com altitudes de 500 a 700m.
A mais importante delas se desenvolve ao longo do limite com o Ceará, onde a
sua frente forma a serra da Ibiapaba e marca o limite oriental da bacia
sedimentar. A planície do Parnaíba, estreita e alongada, junta-se ao norte com
a baixada litorânea e no interior se prolonga para sul e leste.
Clima. Dois tipos de clima
ocorrem no Piauí, o AW e BSh de Köppen. O clima AW, tropical com chuvas e
invernos secos, domina a maior parte do estado. Registra temperaturas médias
anuais de 25 a 27o C e pluviosidade anual de 700mm, no sul, e 1.200mm, no
norte. O clima BSh, semi-árido quente com chuvas de verão e invernos secos,
ocorre na porção sudeste do estado. Registra médias térmicas de cerca de 24o C
e pluviosidade de aproximadamente 650mm, sujeita a irregularidades.
Hidrografia. Toda a rede de
drenagem do Piauí pertence à bacia hidrográfica do rio Parnaíba, o principal do
estado, cujo curso forma o limite com o Maranhão. Integram-na os afluentes e
subafluentes da margem direita do Parnaíba, entre os quais se destacam, como de
mais longo curso, o Longá, o Poti, o Canindé e o Gurguéia. Somente esses e o
Parnaíba são rios perenes; os demais são temporários, ou seja, deixam de correr
na estação seca. O Parnaíba teve seu curso interrompido, a montante de
Floriano, pela barragem da usina hidrelétrica Presidente Castelo Branco (ex-Boa
Esperança), o que deu origem a um grande lago artificial.
Flora e fauna. Recobrem o Piauí
quatro tipos de formação vegetal: a caatinga, nas porções sul e sudeste do
estado; o cerrado e o cerradão (mais denso que o cerrado), no norte e no leste;
e a floresta, bastante devastada, numa estreita faixa a oeste, ao longo do
Parnaíba, e a leste, sobre a serra de Ibiapaba. Tanto nas áreas de floresta
como nas do cerrado encontram-se extensos carnaubais e babaçuais. Outras
palmeiras e espécies tanantes e oleaginosas estão presentes nesses lugares, em
formações menos importantes. A fauna varia de acordo com essas diferenças da
flora e corresponde à encontrada no cerrado e na caatinga dos estados
limítrofes.
População
Em seu processo de colonização, o
Piauí recebeu grande contingente de brasileiros de outros estados, sobretudo da
Bahia e de São Paulo. Ainda assim, a densidade demográfica do estado permaneceu
sempre muito baixa. Também é notório, no mapa demográfico do Piauí, o
predomínio constante da população rural sobre a das cidades. As áreas de maior
densidade demográfica correspondem ao vale inferior do Parnaíba e à região
drenada pela bacia do Canindé, que são as principais áreas agrícolas do estado.
No sul do Piauí, o povoamento é rarefeito.
O território piauiense se
distribui entre as áreas de influência das cidades de Fortaleza CE (o norte) e
Recife PE (o sul). Ao norte a atuação de Fortaleza se realiza por meio de
Teresina e Parnaíba. Ao sul, Recife atua por intermédio de Floriano. Outras
cidades maiores do estado são Picos, Campo Maior, Piripiri, Oeiras, Floriano,
Barras, São Raimundo Nonato, Pedro II e União. (Para dados demográficos, ver
DATAPÉDIA.)
Economia Agricultura e pecuária. A
economia do Piauí assenta na agricultura e na pecuária, complementadas pelo
extrativismo vegetal. As principais culturas agrícolas, localizadas no vale do
Parnaíba e na bacia do Canindé, bem como em torno da cidade de Picos, são o
algodão arbóreo, o feijão, o milho, o arroz e a mandioca. Existem ainda
plantações consideráveis de cana-de-açúcar, laranja, banana, alho e, em
quantidades menores, coco-da-baía, fumo, tomate, cebola e amendoim. É típica da
região uma extração vegetal que envolve várias palmáceas, como o tucum, a
carnaúba e o babaçu, e também a das castanhas de caju, cascas de angico e
sementes de oiticica.
A pecuária é tradicional no
Piauí, responsável que foi pela ocupação do território durante a época
colonial. É praticada em todo o estado, em caráter extensivo nas áreas de
cerrado, e em caráter intensivo na região de Campo Maior. Um dado à parte é o
da apicultura piauiense, que logo se tornou a primeira do Nordeste e uma das primeiras
do país. Mineração e indústria. O subsolo
piauiense é ainda pouco explorado. Foram localizadas substanciais reservas de
mármore menores de gipsita, sal-gema, calcário e argila na área litorânea
(norte do estado), e vermiculita. Ocorrem ametistas no município de Batalha. O
potencial hidráulico da bacia do Parnaíba foi aproveitado pela usina Presidente
Castelo Branco (Boa Esperança), concluída em 1990.
No final do século XX, a
indústria do Piauí ainda não era significativa. Compreendia, com números modestos,
os setores químico (para produção de óleos vegetais), têxtil (para a fiação e
tecelagem do algodão), de gêneros alimentícios (açúcar, carne, toicinho, sucos
e doces de frutas), de materiais de construção (cal, telhas e tijolos), couros
e peles. Transportes. Estradas de ferro da
Rede Ferroviária Federal ligam Teresina às capitais do Maranhão e do Ceará e,
internamente, às cidades de Parnaíba, Piripiri e Campo Maior. Essa pequena rede
ferroviária, que chega ao porto de Luís Correia, é de instalações obsoletas e
movimento reduzido.
A cidade de Picos é o ponto inicial da rodovia Transamazônica, que
atravessa o estado até Floriano, na divisa com o Maranhão. Picos é importante
entroncamento de rodovias federais: a BR-116 (Teresina-Picos), a BR-020, a BR-230
e a BR-407, o que permite a ligação do estado a Brasília e às demais capitais
do país. O porto de Parnaíba é o principal
do estado e também o terminal da navegação do rio Parnaíba. A aviação comercial
conta com o aeroporto de Teresina e campos de pouso em cidades do interior.
(Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
O povoamento do Piauí deu-se a
partir do centro para o litoral. É certo que no início do século XVII Martim
Soares Moreno (o fundador do Ceará) percorreu a foz do Parnaíba -- o rio Grande
dos Tapuias, como era então conhecido. Do Maranhão para Pernambuco partiram,
por terra, expedições militares: uma, comandada por Baltasar Pestana, e outra,
mais tarde, com André Vidal de Negreiros. A história do Piauí, contudo, tem
como pioneiros os criadores de gado. Ao espírito aventureiro e destemido dos
vaqueiros do São Francisco deve-se a efetiva descoberta do vale, sua conquista
e colonização. Os ascendentes remotos desses vaqueiros foram os bandeirantes
paulistas e os sertanistas baianos. Em seu isolamento étnico, cedo se
cristalizaram -- a exemplo dos antigos paulistanos -- em um tipo racial
definido, que novos cruzamentos não vieram perturbar. Entregues à atividade
rude do pastoreio, criaram-se fortes e arrojados, dando origem a uma sociedade
livre, movediça e enérgica.
Foi desse núcleo de irradiante
força de expansão que partiram os verdadeiros descobridores, conquistadores e
povoadores do vale parnaibano. O próprio nome Parnaíba, com que foi batizado o
maior e mais importante acidente geográfico da primitiva capitania, é uma
confirmação dessa prioridade. Escolheu-o Domingos Jorge Velho em homenagem à
cidade paulista homônima, terra de seus antepassados, e que foi em outros
tempos um dos mais intensos focos de bandeirismo. A mesma origem tem o antigo
município de Paulista, no sul do estado.
Desbravamento. A Casa da Torre,
enorme propriedade na capitania de Pernambuco, foi a grande inspiradora desse
movimento. Ergueu-a Garcia d'Ávila -- o primeiro do nome -- na baía de Taquara,
debruçada sobre o mar. O aventureiro lusitano compreendera o dilema do
colonizador nordestino. Enquanto no sul o contraforte da serra deixava o
bandeirante ao abrigo das incursões dos corsários, que esbarravam impotentes
ante a muralha de granito, o nordeste era um campo aberto à invasão. O homem
tinha que se prender ao litoral para defesa das fundações. Garcia d'Ávila,
porém, não faria o mesmo. Com pedras, cal de mariscos e azeite de peixe,
plantou na costa as raízes poderosas de seu feudo, a cuja sombra os rebanhos
pastariam tranqüilos.
A Casa da Torre era, assim, a um
tempo, a fortaleza contra o invasor e a pousada garantida dos
bandeirantes-vaqueiros. Sob sua proteção, o conquistador era livre para a
conquista. Mergulhou nos sertões, tangeu os rebanhos de gado e espraiou-se
pelos tabuleiros, em sua marcha lenta e perseverante. Desse modo, atingiu o São
Francisco. Em quatro gerações de
conquistadores, o curral transformara-se
em império: os senhores da Torre dominavam de trezentas a quinhentas léguas de
terra. Foi quando um Garcia d'Ávila sonhou conquistar o Piauí. A invasão
holandesa, ao desviar para o litoral as armas dos sertanistas, retardara de
décadas o desbravamento do vale parnaibano. Expulso o invasor, o vaqueiro
retornaria para o campo.
O vale do São Francisco, inflado
de currais, sugeria novas jornadas aos conquistadores de pastagens. Para o
norte, no sertão plano a perder de vista, demoravam as chapadas verdes e
extensas. O Piauí convidava os vaqueiros. Os criadores dos Campos Gerais,
passando do São Francisco para as nascentes do Piauí e do Gurguéia, alcançaram
o Parnaíba e por meio deste se estenderam por todo o estado, de modo a encher
de gado suas pastagens e semear currais ou fazendas ao longo do vasto
território. Enquanto as correntes
imigratórias oriundas do Maranhão se detinham ante o ímpeto das águas do
Parnaíba, que não logravam vencer de subida, e as levas do Ceará se amorteciam
na cinta isoladora das serras, os vaqueiros baianos, encabeçados pelos Ávilas
ou por seus capitães rendeiros, a exemplo de um Domingos Afonso Mafrense ou de
um Jorge Velho, desciam ao sabor das águas e ao revés do sentido geral da
civilização brasileira, da periferia para o interior.
Colonização. Para isso, o meio
proporcionava-lhes todas as facilidades: o caudal dos rios, em cujas águas
transitavam; campos extensíssimos e livres para os rebanhos; frutas selvagens e
caça para o alimento, quando não lhes bastasse o próprio gado para
assegurar-lhes a subsistência; e, finalmente, como dádiva providencial, a
carnaúba. A importância dessa palmeira, de
utilidade incomparável na história da economia piauiense, não provinha, para os
colonizadores, da cera que dela se obtém -- e cujo aproveitamento só
posteriormente se verificaria, com a indústria extrativa -- mas sobretudo de seu uso na construção dos
currais, nas chapadas de flora raquítica onde, além da carnaúba, muitas vezes
só se achavam talos e cipós. Valeram-se ainda da carnaúba para
construir suas casas e ranchos, ao aproveitar desde o tronco para vigas,
esteios e paredes, até a palha, para cobertura de teto e as divisões. Com ela,
entre outros objetos úteis, faziam esteiras, chapéus de palha, cofos, velas,
peneiras e cordas. Outras palmeiras autóctones prestaram-lhes auxílio: com o
tucum faziam redes e com o buriti as balsas em que desciam os rios.
Em tal ambiente não se podia
desenvolver outra sociedade. A natureza construíra, ali, uma pátria de
vaqueiros. Na feição dispersiva e rarefeita característica desses organismos
sociais, encontra-se a explicação de sua linha evolutiva -- das qualidades e
defeitos de sua população, de sua estrutura econômica, social e política, de
sua fisionomia moral e religiosa. Com a extrema mobilidade dos boiadeiros, todo
o território piauiense estava cedo conhecido e pontilhado de fazendas e
currais, que seriam o núcleo de futuros povoados, vilas e cidades. Apesar de seu crescimento
desordenado e prematuro, a população perdeu a homogeneidade e a continuidade de
ação. Constituiu-se em dispersiva pluralidade de núcleos, isolados por extensos
desertos. As conseqüências dessa rarefação foram imediatas nas dificuldades de
contato decorrentes da deficiência aguda dos meios de transporte.
Ao sul, especialmente, onde o
Parnaíba apresenta melhor navegabilidade, essa premência atuou de maneira
particularmente intensa. Embora sendo a zona mais fecunda, mais rica e mais
amena de todo o vale, tornou-se a mais despovoada e inculta. Os colonizadores,
ao fugir o melhor possível ao problema de transporte, desciam o rio até onde a
navegação se tornava franca, para aí se fixarem de preferência. Economia. Ainda aqui foi o gado a
salvação providencial da ruína completa da região. Ante a gravidade do problema
de transporte, era a atividade pastoril a única capaz de sobreviver. Para
buscar mercados longínquos, das capitanias vizinhas, só mesmo uma mercadoria
semovente poderia evitar a paralisação da vida econômica piauiense. As perdas eram enormes, mas
sempre restava alguma coisa do esforço despendido. Não tardou, porém, que um
erro administrativo viesse agravar ainda mais o problema. Ante o abuso de
alguns grandes sesmeiros, entre os quais avultava a Casa da Torre -- que, só
entre o São Francisco e o Parnaíba, dominava setenta léguas de terra --,
intensificou-se a vigilância fiscal dos representantes de el-rei.
Como seu gado não dava para
encher tamanhas extensões, os sesmeiros arrendavam sítios e impunham aos
moradores "grandes vexações, cobranças de rendas e foros". Depois de
o Tesouro português achar que, certamente, esses foros eram rendosos e deviam
caber à coroa, o Conselho Ultramarino tomou sucessivas medidas para a
desapropriação das sesmarias, que pretendia fracionar, para distribuir "a
porção de cem braças quadradas por indivíduos ou famílias, preferindo-se sempre
aqueles que as estivessem desfrutando com lavouras". Agravaram-se aos poucos as lutas
entre posseiros (vaqueiros e agricultores) e os grandes senhores beneficiados
pelas concessões de sesmarias. Os privilegiados sesmeiros ficavam mesmo pela
Bahia e Pernambuco e nem chegavam a conhecer seus imensos feudos no Piauí. Outra
carta régia estabeleceu prazo de dois anos, aos sesmeiros, para a demarcação de
suas terras, sob pena de ficarem elas devolutas. Em 1715 o Piauí foi anexado ao
Maranhão e, em 1718, tornou-se capitania subordinada ao Maranhão.
O índio. No Piauí, o índio
domesticado não foi um inadaptado, como ocorreu em outras províncias. Não teve
de suportar o eito. Deram-lhe cavalo e, com o tempo, transformaram-no em
vaqueiro. João Pereira Caldas (primeiro governador da capitania), em carta ao
ministro de Ultramar, registra a ausência, ali, de preconceito racial:
"Neste sertão, por costume antiqüíssimo, a mesma estimação têm brancos,
mulatos e pretos, e todos, uns e outros, se tratam com recíproca
igualdade."Sem preconceito racial, mas
tentado por novas terras, o branco fazia guerra ao "gentio corso".
Centenas de tribos, para fugir ao massacre, recuaram para o interior do
Maranhão e Goiás. Gueguês, tremembés, acaroás e arains conheciam esse novo
flagelo, mais cruel que a seca de 1723, que se prolongou por quatro anos.
A perseguição foi contínua,
malgrado a lei de D. José I, que declarava livres os índios do Pará, Maranhão e
Piauí: "que lhes dessem todo o favor de que necessitassem, até serem
constituídos na mansa e pacífica posse das referidas liberdades, fazendo-lhes
repartir as terras competentes para sua lavoura e comércio". Foi D. José,
assessorado pelo marquês de Pombal, o primeiro governante a se interessar por
esses desfavorecidos. Pena que suas ordens não fossem cumpridas e que os pobres
do estado continuassem incontáveis ante a minoria de poderosos sesmeiros.Governadores da capitania.
Independente do Maranhão em 1758, a capitania teve como primeiro governador
João Pereira Caldas. O local escolhido para sede do governo foi a vila da Mocha
(outrora uma das fazendas do Mafrense, também chamado Domingos Sertão), elevada
então à categoria de cidade. A capitania, com Pereira Caldas, passou a
chamar-se São José do Piauí, em homenagem ao rei D. José, e Mocha fez-se
Oeiras, para glória do primeiro-ministro do rei, o marquês de Pombal.
Hábil político, como atestam
essas sutilezas toponímicas, foi também Pereira Caldas um bom administrador.
Construiu os primeiros edifícios públicos da capital e num só ano percorreu o
estado, do extremo sul ao extremo norte. Fundou as vilas de Paranaguá,
Jerumenha, Valença, Campo Maior, Marvão e Parnaíba. Cartas régias ditavam
instruções sobre a urbanização das nascentes vilas: com praças e ruas largas,
bem traçadas, e de modo que as casas "sejam sempre fabricadas na mesma
figura uniforme, pela parte exterior, ainda que na outra parte interior as faça
cada um conforme lhe parecer, para que dessa sorte se conserve a mesma
formosura". Com esse pretexto urbanístico o marquês de Pombal executava
sua reforma social e a integração de todos na comunidade. Pereira Caldas
procedeu ao primeiro censo da capitania. Em seu governo deu-se também a
expulsão dos jesuítas.
No fim do século XVIII, o Piauí
teve um notável governante na pessoa de João de Amorim Pereira, administrador
honesto e escrupuloso. Certa ocasião um precipitado vereador de Parnaíba enviou
a Amorim um par de fivelas de ouro, como presente. Ele não só as devolveu como
expressou sua reprovação em ofício ao presidente da câmara daquela vila:
"e o repreenderá severa e asperamente do temerário e atrevido arrojo que
ele teve de fazer-me semelhante presente, atacando por um modo tão escandaloso
a minha honra e inteireza".Independência e império. O 7 de
setembro de 1822 conflagrou a província, onde já havia um movimento separatista
liderado, em Oeiras, por Manuel de Sousa Martins. O movimento estourou, afinal,
em Parnaíba, que proclamou sua independência em 19 de outubro. Seu chefe foi o
juiz João Cândido de Deus e Silva, secundado por Simplício Dias e outros. O
grito da Parnaíba repercutiu em Campo Maior e Piracuruca, que também juram
fidelidade ao príncipe D. Pedro. O governo de Oeiras mandou
marchar sobre Parnaíba o comandante das armas da província, major João José da
Cunha Fidié. Com a aproximação das tropas de Fidié, os patriotas parnaibanos,
sem meios para a defesa da cidade, refugiaram-se no Ceará e pediram o apoio dos
cearenses. Fidié, desconhecedor das manhas políticas, apenas bom soldado da
legalidade, esqueceu-se de deixar tropas em Oeiras e esta, aliviada, proclamou
adesão ao príncipe, em janeiro de 1823, e pediu ajuda a cearenses e baianos.
Fidié deixou então Parnaíba em demanda de Oeiras. Piauienses e cearenses foram
encontrá-lo nos campos do Jenipapo, em Campo Maior. Os combatentes patriotas
eram cerca de três mil, número superior ao das tropas do major luso, mas
careciam de tática militar e por isso aceitaram a luta em campo aberto.
A batalha foi sangrenta. Os
independentes perderam mais de 200 homens e foram vencidos. Mas a vitória não
serviu a Fidié que, no combate, perdeu sua bagagem de munição. Os
campo-maiorenses, em revide, roubaram-lhe a munição. Fidié, sem fogo, desistiu
de tomar Oeiras e refugiou-se em Caxias, no Maranhão, de onde os patriotas o
foram arrancar. Assim o Piauí fez sua independência.O movimento que, em 1824, se
alastrou de Pernambuco ao Ceará atingiu apenas as vilas de Parnaíba e Campo
Maior, que se negaram a prestar juramento à nova constituição outorgada por D.
Pedro I. Os chefes do movimento foram os mesmos que em 1822 proclamavam a
independência da Parnaíba. O major José Francisco de Miranda Osório partiu para
Oeiras em pregação patriótica. Tornara-se republicano convicto e conseguiu
adeptos. Mas não sabia o que, em Oeiras, o povo sabia, isto é, que a
confederação já tinha sido derrotada. Ao chegar a Oeiras, foi preso.
A revolta que eclodiu no Maranhão
em 1840, a balaiada, empolgou os sertanejos, ansiosos por uma reforma que lhes
trouxesse melhores dias. No Piauí, ela prolongou-se por quase dois anos, em
forma de guerrilhas e emboscadas, e atingiu principalmente os municípios à
margem do Parnaíba, além de Piracuruca, Jerumenha, Gilbués e Parnaguá, onde a
luta foi mais intensa. Em 1852 a província ganhou uma
nova capital, Teresina, situada entre os rios Parnaíba e Poti. Em 1792, o
governador Antônio de Noronha já pensara em mudar a capital, de Oeiras, para um
local à margem do Parnaíba, ou mesmo para Parnaíba, vila de melhor comércio e
já então mais importante que a velha capital. Esse feito coube porém ao
conselheiro Saraiva que, naquele tempo, ainda não era o Conselheiro, como é
conhecido na história do Piauí, mas o doutor José Antônio Saraiva, moço de 27
anos.
Saraiva fez boa política na
presidência da província e em janeiro de 1852 conseguia eleger uma assembléia
"saraivista" e, assim, transformar em lei o projeto da mudança. Em
agosto do mesmo ano Saraiva despedia-se de Oeiras e instalava-se em sua nova
cidade, que recebeu o nome em honra da imperatriz do Brasil, Teresa Cristina. Abolição e república. O movimento
para a abolição da escravatura começou em 1870, quando foi fundada em Teresina
uma sociedade emancipadora. A instalação dessa sociedade foi solenizada com a
alforria de dez jovens escravas. No orçamento da província incluiu-se uma verba
para a libertação de cativos. Em 1871, foram declarados livres os escravos que
pertenciam às antigas fazendas de gado, criadas pelo Mafrense. Nas vilas de
Barras e Jaicós fundaram-se também sociedades emancipadoras e, em julho de
1844, Jaicós declarava livres os seus escravos.
À notícia da proclamação da
república reuniu-se o povo de Teresina no Teatro da Concórdia. No dia 16 de
novembro, de uma das janelas do prédio do telégrafo, o telegrafista e um
capitão se revezaram em discursos candentes e terminaram por proclamar a
República do Piauí, mas seu presidente logo foi deposto e um governo provisório
organizou-se. Tornou-se estado, promulgou sua constituição (1891) e Gabriel
Luís Ferreira foi seu primeiro governador.Com a república, o Piauí entrou
num período de mais de trinta anos de relativa tranqüilidade, apesar da ameaça
de revolução, em 1916, no governo Miguel de Paiva Rosa. Este fora acusado de
fraudar as eleições em favor do candidato situacionista. A Câmara reconheceu a
vitória do candidato da oposição e Miguel Rosa, sem contar com o apoio de seus
correligionários, asilou-se no quartel da força federal.
Em 1922, o governador João Luís
Ferreira mudou a sede do governo para a chácara de Karnak, onde passara a
infância. Era a época do "coronelismo" por excelência. Só o
"coronel" decidia os destinos dos candidatos, a eleição era a
"bico de pena" e o eleitor, mais do que nunca, "de
cabresto". Assim foi até 1930, quando surgiu no país a Aliança Liberal. O
Piauí foi então um dos primeiros estados a se rebelar contra o sistema vigente.Na madrugada de 4 de outubro de
1930, o desembargador Vaz da Costa, ajudado por um grupo de sargentos, tomou os
quartéis do Exército e da polícia estadual e depôs o governador. Vitoriosa em
todo o país a revolução de 1930, o estado passou a ser governado por
interventores nomeados pelo governo federal. Em abril de 1935 houve eleições,
mas em 1937, com o Estado Novo, voltou a ter interventores. Reintegrado o país
ao regime democrático, de 1947 a 1963 o Piauí elegeu os governantes pelo voto
direto.
Após o golpe militar de 1964, foi
mantido no cargo o governador eleito no ano anterior, Petrônio Portela Nunes.
Sucederam-lhe, em eleições indiretas, Helvídio Nunes de Barros, Alberto Tavares
Silva, Dirceu Mendes Arcoverde e Lucídio Portela Nunes. Só em 1982
verificaram-se novamente eleições diretas, quando Hugo Napoleão do Rego Neto se
elegeu governador. Sucedeu-lhe, nas eleições de 1986, Alberto Tavares Silva,
nas de 1990 Antônio Freitas Neto e nas de 1994 Francisco de Assis de Morais
Sousa.
Cultura
A Universidade Federal do Piauí,
fundada em 1968, e com sede em Teresina, tem faculdades de medicina,
odontologia, direito, filosofia e administração, esta última sediada em
Parnaíba. Dos museus do estado, o mais importante é o Museu Histórico do Piauí.
O Arquivo Público do Piauí funciona na casa Anísio Brito, que é também a sede
da Biblioteca Pública e do Museu Histórico.O Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional tombou, no território do estado, os seguintes monumentos: em
Campo Maior, o cemitério do batalhão; em Oeiras (a antiga capital), o paço
episcopal (antigo sobrado Nepomuceno), na praça das Vitórias, a Ponte Grande,
sobre o rio Mocha; em Piracuruca, a igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo; e,
em Teresina, as cinco portas externas da igreja de São Benedito (1886). Em
Teresina, encontra-se ainda a estátua de frei Serafim de Catânia, fundador da
igreja de São Benedito; e, em Parnaíba, o obelisco em memória dos heróis da
independência no Piauí.
Folclore e festas religiosas. Há
grandes festas de santos padroeiros em muitas cidades, tais como a de Nossa
Senhora do Amparo, em Teresina, a de são Gonçalo, em Batalha e Campo Maior, a
de Nossa Senhora da Graça, em Parnaíba, e a de são Miguel Arcanjo, em são
Miguel do Tapuio, Miguel Alves, Matias Olímpio etc. A semana santa é comemorada
com pompa e procissões nas cidades de Floriano, Parnaíba, Pedro II, Teresina e
Uruçuí. Luís Correia festeja seu padroeiro, Bom Jesus dos Navegantes, com uma
procissão marítima. Há tradicionais festejos
populares, em geral ligados a datas religiosas, tais como o bumba-meu-boi ou
dança do boi, realizado em fins de junho em numerosas cidades (Barras,
Floriano, São Raimundo Nonato, Teresina); o reisado e as pastorinhas, entre o
Natal e o Dia de Reis, também muito freqüentes (Conceição do Canindé, Floriano,
Oeiras, Teresina); as folias de Reis e do Divino Espírito Santo, em Santa
Filomena; as danças de são Gonçalo (Batalha, Campo Maior, São Raimundo Nonato);
dança do tambor do crioulo (Teresina).
Turismo. Além dos monumentos
históricos tombados, há que visitar a formação das Sete Cidades, no município
de Piracuruca, constituída por sete conjuntos de formações rochosas, cuja
altura varia entre quatro e cinco metros na primeira, para atingir 120 na
terceira, chamada Castelo, e que cobrem uma extensão de vinte quilômetros
quadrados. A 12km da capital fica o Zoobotânico, com praias fluviais no rio
Poti, e a apenas cinco quilômetros de seu centro existe uma floresta
petrificada, que se calcula remonte a 350 milhões de anos, e que em 1993 passou
a ser parque municipal.
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