Monumento ao Padre Cicero |
Juazeiro do Norte é um município brasileiro do estado do Ceará. Graças à figura de Padre Cícero, é considerado um dos maiores centros de religiosidade popular do Ceará, atraindo milhões de romeiros todos os anos .
O município se localiza na região do Cariri , no sul do estado, a 533 km da capital, Fortaleza. Sua área é de 248,558 km², a uma altitude média de 377,3 metros. A população do município em 2012, segundo a estimativa do IBGE, é de
255 648 habitantes, que o torna o terceiro mais populoso do Ceará, a
maior do interior cearense e a centésima maior do Brasil . A taxa de urbanização é de 95,3%.
O topônimo Juazeiro é uma alusão a uma árvore típica da Região Nordeste do Brasil, cujo nome científico é Zizyphus joazeiro. Juazeiro é uma palavra de origem híbrida (tupi e português): "juá" ou "iu-á" (fruto de espinho) e o sufixo "eiro" . O município adotou o atual nome em 30 de dezembro de 1943, por meio do decreto estadual n° 1.114.
Juazeiro do Norte era inicialmente um distrito da cidade vizinha Crato, até que o jovem Padre Cícero Romão Batista
resolveu se fixar como pároco no lugarejo, até então sem capelão e,
portanto, sem os serviços religiosos. Padre Cícero foi um dos
responsáveis, tempos depois, pela emancipação e independência da cidade.
Por conta do chamado "milagre de Juazeiro" (quando Padre Cícero deu a
hóstia sagrada à beata Maria de Araújo,
a hóstia se transformou em sangue), a figura do padre assumiu
características místicas e passou a ser venerado pelo povo como um
santo. Hoje a cidade é a segunda do estado e referência no Nordeste
graças ao padre.
Quando ainda era uma vila pertencente ao Crato, Juazeiro chamava-se Tabuleiro Grande e não passava de um aglomerado de casas de taipa e algumas de tijolos convergindo para uma capela dedicada à Nossa Senhora das Dores . A vila era um mero entreposto e servia de ponto de apoio para aqueles que se dirigiam para o Crato.
No natal de 1871, Padre Cícero recebeu o convite para rezar a missa do galo no lugarejo. Era para ser apenas uma celebração, mas em 11 de abril de 1872
o padre retornaria a Tabuleiro Grande acompanhado de alguns familiares
para se fixar na vila. Segundo o próprio padre, a decisão decorreu de um
sonho, onde viu Jesus Cristo
e os doze apóstolos sentados a uma mesa, em seguida uma multidão de
peregrinos marcados pela fome e pela dor adentra no local, então Jesus Cristo
diz estar decepcionado com a humanidade, mas que está disposto a fazer
um último sacrifício para salvar o mundo, então vira-se para o padre e
ordena: "E você, Padre Cícero, tome conta deles".
Com o lema "cada casa uma oficina, cada oficina um oratório", logo que chegou, o sacerdote tratou de mudar os costumes profanos do local e tornar comum a prática dos sacramentos. Inspirado por Padre Ibiapina, Padre Cícero criou as Casas de Caridade,
organizações tocadas por beatas e que visavam a levar educação, saúde e
auxílio religioso ao povo. As Casas de Caridade se espalharam pelo
entorno de Juazeiro, sendo a mais famosa delas situada no Sítio Caldeirão sob o comando do beato José Lourenço.
Inúmeras oficinas foram criadas, com destaque para as de produção de
velas, imagens sacras e calçados. O jeito simples e carismático do padre
contagiava a população que cada vez mais se entregava à religião e ao
trabalho.
Durante uma missa em 6 de março de 1889, Padre Cícero ministrava a comunhão aos fiéis, quando ministrou o sacramento à beata Maria de Araújo
a hóstia se transformou em sangue. O fato teria se repetido diversas
vezes durante cerca de dois anos. A população logo atribuiu ser um
milagre.
Padre Cícero, cauteloso, pediu à diocese que enviasse uma comissão
para investigar o fenômeno e pediu aos fiéis que não comentassem a
respeito do mesmo, porém este pedido foi em vão, visto que a notícia
logo se espalhou por toda a região Nordeste e em uma rapidez
extraordinária chegou ao sul do país. A comissão era formada pelo Marcos
Rodrigues Madeira (médico do Rio de Janeiro), Ildefonso Correia Lima
(médico e professor da Faculdade do Rio de Janeiro), Joaquim Secundo
Chaves (farmacêutico), e diversos padres da região.
Após longos estudos, inclusive podendo testemunhar o fenômeno da transformação por diversas vezes, a comissão concluiu que o "facto
da ordem dos observados não podem ser explicados pelo jogo natural dos
agentes naturais, sendo forçoso aceitar a intervenção de um agente
inteligente oculto que represente a causa, o qual, no caso em questão,
acredito em ser Deus" (trecho de carta escrita por Ildefonso Correia Lima e reconhecida a letra em firma pelo cartório do Crato).
Apesar da comissão provar que não existia explicação para o fenômeno,
o bispo Dom Joaquim enviou uma segunda comissão liderada pelos padres
Alexandrino de Alencar e Manuel Cândido para analisar o caso. Esta
comissão declarou que o fenômeno era uma farsa. Baseado no segundo
relatório, Dom Joaquim mandou enclausurar a beata Maria de Araújo em um
convento e suspendeu as ordens sacerdotais de Padre Cícero.
Emancipação
Desde o início do século XX
que a vila de Tabuleiro Grande buscava desvincular-se do Crato. Como
argumento principal o fato de que a vila se tornara maior e mais
importante que a sede. De fato, Tabuleiro Grande apresentou um
crescimento surpreendente, chegando a rivalizar até mesmo com a capital Fortaleza. O movimento em prol da emancipação ganhou força em 1909 com a chegada do Padre Alencar Peixoto e de José Marrocos, juntos fundaram o jornal O Rebate que se tornou o principal difusor do projeto . No mesmo ano, houve uma greve geral da população, causando prejuízos à economia do Crato . Em 1910, foi organizada uma passeata pela emancipação, reunindo aproximadamente quinze mil pessoas . Em 22 de julho de 1911, a emancipação é concedida através da lei n° 1.028 , o novo município passa a se chamar Joaseiro (uma referência à árvore típica da região), e Padre Cícero é eleito o primeiro prefeito.
Em 4 de outubro de 1911, Padre Cícero e outros dezesseis líderes políticos da região firmaram um acordo de cooperação entre si e apoio ao governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. Tal evento ficou conhecido como pacto dos coronéis e representa um marco na história do coronelismo brasileiro .
No ano seguinte, o então presidente da República Hermes da Fonseca depôs o governador Nogueira Accioli e nomeou o coronel Marcos Franco Rabelo como interventor do Ceará.
Houve eleição apenas para vice-governador onde Padre Cícero foi o
escolhido. Depois de assumir o posto, Franco Rabelo rompe com o Partido Republicano Conservador
(PRC) e passa a perseguir Padre Cícero, chegando a destituí-lo da
prefeitura de Juazeiro e a mandar um batalhão da Polícia estadual
prender o padre. Então, o médico Floro Bartolomeu (braço direito do padre) reuniu jagunços e romeiros para proteger Padre Cícero
. Em apenas uma semana, os romeiros cavaram um valado de nove
quilômetros de extensão cercando toda a cidade e ergueram uma muralha de
pedra na colina do Horto, a fortificação recebeu o nome de "Círculo da
Mãe de Deus" . O batalhão ao ver que seria impossível romper o círculo, recuou e pediu reforços.
Um contingente muito maior foi enviado a Juazeiro, levando consigo um
canhão para derrubar a muralha que protegia a cidade, porém, o canhão
falhou e os romeiros armados apenas com algumas espingardas, facas,
foices e muita fé venceram os invasores. O canhão foi tomado e está
exposto até hoje no "Memorial Padre Cícero". Floro Bartolomeu consegue
então o apoio do Presidente Hermes da Fonseca e do Senador Pinheiro Machado, e parte para Fortaleza com o intuito de derrubar o governador. No caminho, os romeiros tomam o poder de Crato, Barbalha, Estação Afonso Pena (próxima a Iguatu), Messejana, Maracanaú e Maranguape,
fechando todas as entradas da capital, enquanto uma esquadrilha da
Marinha de Guerra capitaneada pelo Cruzador Barroso impõe um bloqueio
marítimo à cidade. Franco Rabelo é deposto e eleições são convocadas
onde Benjamim Liberato Barroso é eleito governador e Padre Cícero mais
uma vez eleito vice. Vitoriosos, os romeiros retornam a Juazeiro
desarmados e desocupam as cidades tomadas durante a sedição.
Em 1925, a coluna Prestes percorria o interior do Brasil. O governo federal montava diversos grupos armados para combater o bando. Na região o encarregado de organizar a milícia foi o médico Floro Bartolomeu, que criou o chamado Batalhão Patriótico.
Para fortalecer o grupo, Floro teve uma ideia inusitada: convidar o temido cangaceiro Lampião para integrar o Batalhão Patriótico. Como argumentos, o caudilho usou o nome de Padre Cícero e ofertou a anistia ao bando de Lampião. Em 1926
Lampião chegou em Juazeiro acompanhado de quarenta e nove homens com o
intuito de servir ao Batalhão Patriótico. Ao contrário do que os
cangaceiros achavam, Padre Cícero somente ficou sabendo do acordo alguns
dias antes da chegada do bando a Juazeiro. Em outra versão, defendida
pelo historiador Billy James Chandler, o convite teria sido feito pelo
próprio sacerdote .
Como Floro Bartolomeu estava no Rio de Janeiro
em tratamento médico, o general das forças juazeirenses Pedro de
Albuquerque Uchoa foi o encarregado de conceder a patente de capitão ao
cangaceiro. Ao encontrar Lampião e seu bando, Padre Cícero recomendou que abandonassem o cangaço e que passassem a respeitar as leis. Uma de suas frases mais conhecidas foi proferida nesse encontro: "Quem matou não mate mais, quem roubou não roube mais".
Os cangaceiros deixaram Juazeiro sem receber a anistia prometida e sem nunca enfrentar a coluna Prestes
Vista Aerea de Juazeiro do Norte Ceará |
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