domingo, 4 de novembro de 2012

Rio Ganges Poluição e Misticismo


Imagem: infoescola.com

Os rios sempre foram instrumento de desenvolvimento. Desde a antiguidade, as civilizações se reuniam em suas margens e, gozando de seus benefícios, formavam pequenas vilas e então, cidades. Ainda hoje, muitas pessoas dependem dele para sua sobrevivência. No entanto, com a falta de planejamento urbano e crescimento descomedido das cidades, muitos dos principais rios mundiais estão drasticamente poluídos, o que, como citei no texto do Dia Mundial das Águas, acarreta inúmeras doenças e, conseqüentes, mortes. Jovem à procura de algo para vender no Citarum, rio mais poluído do mundo.

Segundo a WWF, 5 rios que servem 870 milhões de pessoas na Ásia estão entre os 10 mais ameaçados do mundo. E desses citarei o Citarum, na ilha de Java, na Indonésia e o mais conhecido por nós (ao menos por nome, thanks Globo), o Ganges, na Índia. O primeiro recebe o infeliz título de mais poluído do mundo. Muitas indústrias, principalmente as têxteis, que começaram a fixar-se à beira do rio a partir da década de 80, passaram a despejar seus dejetos químicos sem nenhum tratamento no Citarum que, somados aos dejetos humanos e todo o tipo de lixo doméstico, tornou-se morto e tóxico. Sem nenhum tipo de tratamento ou coleta de lixo, ele é o destino e “solução” dos problemas do povo dessa ilha, que ainda usa a água para beber, lavar e plantar.

Já o Ganges (ou Benares), ao norte da Índia e Bangladesh, tem uma história um pouco diferente. Ele atravessa 9 estados e influencia a vida de 300 milhões de pessoas, das quais 20 milhões estão dispostos em suas margens. O rio tem uma grande importância para esta população, pois é dele que é retirada água e os alimentos que consomem. Para os indianos, os rios são como divindades e o Ganges é o mais sagrado deles. Os seguidores do Hinduísmo (mais de 80% da população indiana) acreditam que banhar-se em suas águas é sinal de purificação dos pecados. E talvez essa seja a diferença entre o que acontece na Índia e em outros países.
Além dos dejetos industriais e domésticos (89 milhões de litros de esgoto são jogados no rio todos os dias), dos fertilizantes e pesticidas usados na agricultura (43% de toda irrigação na Índia é baseada às margens do rio) e do lixo em geral, a questão religiosa também contribui para o seu deterioramento. Diariamente, 2 milhões de pessoas banham-se no rio em busca dessa purificação. Porém, banhar-se, em si, não é o problema. E sim o que os crentes acabam fazendo em nome de sua fé. É comum ver corpos humanos e de animais boiando ao longo do rio. Os adultos são queimados em uma fogueira e então têm suas cinzas jogadas no rio sagrado. Já as crianças (e grávidas), consideradas puras, têm pedras amarradas aos pés e então são lançadas no meio do rio. Não obstante, animais como vaca – símbolo sagrado – também têm o mesmo destino. Assim, convivem os corpos fétidos (humanos e animais), as cinzas de mortos, os pescadores, as pessoas que lavam roupa, os crentes se banhando, as crianças que brincam, e a imensa quantidade de lixo, como plásticos, resíduos químicos e sanitários. Peregrinos acreditam que as águas do Ganges dispõem de um poder especial de absolvição dos pecado.

Eu conversei com alguns amigos indianos, o Tarun Sharma e Rahul Acharya, e foi bem interessante ver o que eles pensam a respeito. Eles me falaram de como a questão religiosa é forte e como as pessoas acabam sendo induzidas a realizar determinadas ações. Ambos concordam que a Índia é um país muito corrupto, não só politicamente, mas também em relação a religião. Há muito aquele discurso de garantir um lugar junto aos deuses através de determinados rituais – como jogar corpos e as cinzas no rio. Há centenas de anos que os indianos seguem estes costumes, não seria agora, em poucas décadas, que eles deixariam de praticá-los. É como se eles não vissem além da religião e, tanto Tarun, quanto Rahul, me disseram que na própria religião os interesses financeiros falam mais alto. Além disso, acordos entre empresas e políticos, e a falta de vontade do Governo faz com que, mesmo aqueles 2% ou 3% interessados em ajudar, como me disse o Tarun, não tenham espaço para defender o rio. É o exemplo do grupo EcoFriends, que realizam ações nada fáceis, como podem ver nas imagens de retirada de corpos do rio.

Corpo boiando no Ganges e, ao fundo, pessoas banhando-se e lavando roupa tranquilamente, são ações constantes. Em verdade, a despoluição do Ganges não é assunto novo. Em 1986, foi lançado o Ganga Action Plan, que tinha por objetivo conservar a biodiversidade, diminuir a poluição e aumentar a qualidade de água. Obviamente, ele falhou. Como disseram meus amigos indianos, não adianta nenhuma ação sem primeiro mudar as atitudes. Por outro lado, o Governo não fará nada por ele só, é preciso cobrança. Infelizmente, a poluição do meio ambiente é um presente (de grego) do desenvolvimento industrial e do boom populacional, aliado à falta de planejamento urbano e condições miseráveis de vida. Como o Tarun, eu espero um dia poder ver essa realidade mudando e isso só depende daquilo que fazemos hoje.


As Imagens abaixo, mostram á realidade ás margens do rio Ganges. ( Imagens Fortes)

















Imagens: http://www.uhull.com.br/01/30/india-isso-voce-nao-vai-ver-na-globo-e-claro-imagens-chocantes/

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