Desde o turbulento evento denominado Revolução Francesa (1789-1815), o qual, de acordo com alguns historiadores, inaugurou a Idade Contemporânea, os conceitos de direita e esquerda
fazem-se presentes nos debates políticos e ideológicos, sobretudo no
mundo ocidental. Neste texto, procuraremos explicitar a relação desses
conceitos com a ambiência revolucionária da França, bem como a
identificação que um e outro passaram a ter, a posteriori, com as
posições políticas conservadoras e/ou liberais (direita) e progressistas
e/ou revolucionárias.
Durante o processo revolucionário começado em 1789,
na França, os Girondinos, considerados mais moderados e conciliadores,
ocupavam o lado direito da Assembleia, enquanto os Jacobinos, mais
radicias e exaltados, ocupavam o lado esquerdo. Essa é a origem da
nomenclatura política que categoriza os posicionamentos políticos no
interior dos sistemas políticos contemporâneos.
Contudo, essa polarização tem suscitado inúmeros
problemas e demasiadas polêmicas, sobretudo porque, a partir do século
XIX, houve uma radicalização ideológica tanto de um lado quanto do
outro. O desenvolvimento das ideias de autores considerados de direita,
como Donoso Cortez e Charles Maurras, bem como o daqueles considerados de esquerda, como Karl Marx e Bakunin,
entre outros, estimulou gerações de intelectuais, movimentos políticos e
ativistas que levaram às últimas consequências a crença em sua
ideologia.
Em geral, ambos os
seguimentos ideológicos, seja de direita ou de esquerda, quando chegam à
sua forma extrema, desenvolvem perspectivas idealizadoras com vistas à
“transformação do mundo”. Essa perspectiva utópica tem seus fundamentos,
tanto na direita quanto na esquerda, na secularização das expectativas
apocalípticas cristãs, que, no sentido original, tinham por meta
aguardar a segunda vinda de Cristo e o juízo final.
Com o advento do mundo moderno, tais expectativas
transferiram-se para o domínio terreno e, grosso modo, para a ação
política e seu principal agente de transformação, o Estado. Os ideólogos
de esquerda pretendem aperfeiçoar o mundo por meio de políticas que
instaurem a justiça social, ou o igualitarismo, ou a socialização dos
meios de produção econômica, ou qualquer outra ação que remeta à ideia
de igualdade. Já os ideólogos de direita pretendem perfectibilizar o
mundo a partir de uma perspectiva idealizada do passado e da tradição,
de valores nacionais ou religiosos. Cada qual dos lados, em diversos
momentos da história (sobretudo no século XX), empenhou-se até a
barbárie para fazer valer sua visão ideológica de mundo.
Contudo, essa divisão pode limitar a compreensão de
perspectivas mais complexas sobre a política. Geralmente, a alcunha
“direitista” é aplicada sem muita acuidade crítica ao pensamento conservador. Do mesmo modo, a alcunha de “esquerdista” é aplicada às reflexões e propostas progressistas. E ambos, conservadores e progressistas, não raro, associam-se com liberais. É
o caso, por exemplo, de quem defende ideias progressistas, como o
aborto, políticas de cotas etc., mas defende a liberdade econômica, isto
é, livre mercado, livre concorrência etc.; ou, ao contrário, quem
defende política antiaborto, política contra as cotas e contra programas
sociais fomentados pelo Estado, mas também se ajusta, igualmente, à
prática do liberalismo econômico. Do ponto de vista político e
ideológico, progressistas e conservadores divergem, mas concordam, por
vezes, quanto à economia. Vê-se, então, que o problema é mais complexo
do que se imagina.
As raízes do pensamento conservador e progressista remontam ao século XVIII, especificamente às figuras de Edmund Burke e Jean-Jacques Rousseau,
respectivamente. O primeiro é uma das principais fontes do pensamento
conservador contemporâneo, e o segundo, do pensamento progressista, que
se bifurca em liberais moderados, reformistas e revolucionários.
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