Vincent Willem Van Gogh |
A sua fama póstuma cresceu especialmente após
a exibição das suas telas em Paris, a 17 de
Março de 1901. Van Gogh é considerado um dos pioneiros na ligação das tendências
impressionistas com as aspirações modernistas, sendo
a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século
XIX, como por exemplo o expressionismo, o fauvismo e o abstraccionismo. O Museu
Van Gogh em Amesterdão é
dedicado aos seus trabalhos e aos dos seus contemporâneos.
Vincent nasceu em Zundert, uma
cidade próxima a Breda, na província de Brabante
do Norte, nos Países
Baixos. Era filho de Theodorus, um pastor da Igreja Reformada Neerlandesa
(calvinista), e de Anna Cornelia Carbentus. Recebeu o mesmo nome de seu avô
paterno e também daquele que seria o primogênito da família, morto
antes mesmo de nascer exatamente um ano antes de seu nascimento.
Especula-se que este fato tenha influenciado profundamente certos aspectos de
sua personalidade, e que determinadas características de sua pintura (como a
utilização de pares de figuras masculinas) tenham sido motivadas por isso. Ao
todo, Vincent teve dois irmãos: Theodorus, apelidado de Theo, e
Cornelius (Cor); e três irmãs: Elisabeth, Anna e Willemina (Will).
Vincent era uma criança séria, quieta e
introspectiva. Desenvolveu através dos anos uma grande amizade e forte ligação
com seu irmão mais novo, Theo. A vasta correspondência entre Theo e Vincent foi
preservada e publicada em 1914, trazendo a público inúmeros detalhes da vida privada do
pintor, bem como de sua personalidade. É através destas cartas que se sabe que
foi Theo quem suportou financeiramente o irmão durante a maior parte da sua
vida. Aos 16 anos, por recomendação de seu tio Vincent (ou Cent), começou a
trabalhar para um comerciante de arte estabelecido na Haia, na
empresa Goupil & Cie. Quatro anos depois foi transferido para Londres, e
depois para Paris.
No entanto, Vincent estava cada vez mais
interessado em assuntos religiosos, e acabou sendo demitido da galeria. Ele
então decidiu retornar à Inglaterra para
fazer um trabalho sem remuneração. Durante o Natal, Van Gogh retornou para casa
e começou a trabalhar numa livraria. Ele ficou seis meses no novo emprego, onde
gastava a maior parte de seu tempo traduzindo a Bíblia. Em 1877 sua
família mandou-o para Amsterdã, onde
morou com seu tio Jan. Vincent preparou-se para os exames de admissão da
Universidade de Teologia com seu tio Johannes Stricker (teólogo), mas
fracassou. Mudou-se então para a Bélgica, e
novamente fracassou nos estudos da escola Missionária Protestante. Em 1879, ainda
na Bélgica, começou um trabalho temporário como missionário em uma comunidade
pobre de mineiros.
MATURIDADE
Em 1880,
Vincent decidiu seguir a sugestão do seu irmão Theo e levar a pintura mais a
sério. Ele partiu para Bruxelas para tomar aulas com Willem Roelofs, que o
convenceu a tentar a Academia Royal de Artes. Lá ele estudou um pouco de
anatomia e de perspectiva. Em 1881, Van Gogh mudou-se com a família para Etten, onde ficou
amigo de Kee Vos-Stricker, sua prima e filha de Johannes Vicent Stricker. Ao
pedi-la em casamento, ela o recusou com um enérgico "nunca".
Porém, Van Gogh insistiu em sua ideia, o que gerou conflitos com seu pai. No
final do mesmo ano, Vincent partiria para a Haia.
Na Haia, ele juntou-se a seu primo, Anton
Mauve, nos estudos de arte. Envolveu-se com uma prostituta
grávida e já mãe de um filho, conhecida como Sien. Quando o pai de Van Gogh
soube do relacionamento do filho, exigiu que ele a abandonasse. Em 1883,
mudou-se para Nuenen (Holanda) onde se dedicou à pintura. Lá se apaixonou pela
filha de uma vizinha, Margot Begemann. Decidiram se casar, mas suas famílias
não aceitaram o casamento, o que fez com que Margot tentasse o suicídio.
Em 1885, o pai
de Van Gogh morreu de infarte. Neste mesmo ano ele pintou aquela que é
considerada a sua primeira grande obra: Os Comedores de Batata. Em
novembro do mesmo ano, muda-se para Antuérpia. Com
poucos recursos, ele preferia mandar dinheiro para Theo em Paris, para que este
lhe enviasse material de pintura, a comer uma boa refeição. Enquanto estava em
Antuérpia, dedicou-se ao estudo das cores e visitou museus, apreciando
trabalhos principalmente de Peter
Paul Rubens, e tornou-se um bebedor frequente de absinto. Foi
nesta altura que entrou em contacto com a arte japonesa, da
qual se tornou fervoroso admirador e que posteriormente o influenciaria pelas
cores fortes e uso das linhas. Em 1886,
matriculou-se na Ecole des Beaux-Arts de Antuérpia.
PARIS
Em março de 1886, Van Gogh mudou-se para Paris, onde
dividiu um apartamento em Montmartre com
Theo. Depois, os dois mudaram-se para um apartamento maior na Rua Lepic, 54.
Por alguns meses, Vincent trabalhou no Estúdio Cormon, onde conheceu os
artistas John Peter Russell, Émile
Bernard e Henri de Toulouse-Lautrec, entre
outros.1 Este último, alcóolatra,
apresenta van Gogh ao absinto, bebida popular da ocasião, que viria a ser
muito consumida pelo pintor, que a retratou em Natureza Morta com Absinto. O
absinto possuía como principal ingrediente uma planta alucinógena de nome Artemisia absinthium e cuja
graduação alcóolica era de
68%. O absinto, também conhecida como "fada verde" devido aos efeitos
alucinógenos, foi responsabilizado por alucinações, surtos
psicóticos e até mesmo mortes. Através de Theo, conhece Monet, Renoir, Sisley, Pissarro, Degas, Signac e Seurat.
Naquela época, o impressionismo tomava
conta das galerias de arte de Paris, mas Van Gogh tinha problemas em assimilar
esse novo conceito de pintura. Vincent e Émile Bernard começaram o uso da
técnica do pontilhismo, inspirados em Georges
Seurat. A partir de sua estada em Paris, Van Gogh abandona sua
temática sombria e obscura de camponeses e suas obras recebem tons mais claros.
São desta época os quadros Mulher sentada no Café du Tambourin, A
ponte Grande Jatte sobre o Sena, Quatro Girassóis, os Retratos de Père Tanguy, entre
outros.
Em 1887,
conhece Paul Gauguin, e mais para o final do ano expõe em Montmartre. No
ano seguinte, decide mudar-se de Paris. Vincent van Gogh chegou em Arles, no
Sul de França, no
dia 21 de fevereiro de 1888. A cidade era um local que o impressionava pelas
paisagens e onde esperava fundar uma colônia de artistas. Com objetivo de
decorar a sua casa em Arles (conhecida como A Casa
Amarela, retratada em uma de suas obras), Van Gogh pintou a
série de quadros com girassóis, dos quais um se tornaria numa de suas obras
mais conhecidas. Dos artistas que deixara em Paris, apenas Gauguin respondeu ao
convite feito para se instalar em Arles. O Vinhedo Vermelho, único
quadro vendido durante a sua vida, foi pintado nesta altura. Ele o vendeu por
400 francos.
Gauguin e Van Gogh partilhavam uma admiração
mútua, mas a relação entre ambos estava longe de ser pacífica e as discussões,
frequentes. Para representar as relações abaladas entre os dois, Van Gogh pinta
a A Cadeira de Van Gogh e a A Cadeira de Gauguin, ambas
de dezembro de 1888. As
duas cadeiras estão vazias, com objetos que representam as diferenças entre os
dois pintores. A cadeira de Van Gogh é sem braços, simples, com assento de
palha; a de Gauguin possui assento estofado e possui braços. Mediante os
diversos conflitos, Gauguin pensa em deixar Arles: "Vincent e eu não
podemos simplesmente viver juntos em paz, devido à incompatibilidade de
temperamentos", queixou-se ele a Theo. Gauguin sentia-se incomodado com as
variações de humor de Vincent pela pressão exercida por elas.
Em 23 de
dezembro de 1888, após a saída de Gauguin para uma caminhada, Van
Gogh o segue e o surpreende com uma navalha
aberta. Gauguin se assusta e decide pernoitar em uma pensão. Transtornado e com
remorso pelo feito, Vincent corta um pedaço de sua orelha direita, que embrulha
em um lenço e leva, como presente, a uma prostituta sua amiga, Rachel. Vincent
retorna à sua casa e deita-se para dormir como se nada acontecera. A polícia é
avisada e encontra-o sem sentidos e ensanguentado. O artista é encaminhado ao
hospital da cidade. Gauguin então manda um telegrama para Theo e volta para
Paris, julgando melhor não visitar Vincent no hospital. Vincent passa 14 dias
no hospital, ao final dos quais retorna à casa amarela. Em seu retorno pinta o Auto-Retrato com a Orelha Cortada. O
episódio trágico convenceu van Gogh da impossibilidade de montar uma comunidade
de artistas em Arles.
O estilo de pintura acompanhou a mudança
psicológica e Van Gogh trocou o pontilhado por pequenas pinceladas. Quatro
semanas após seu retorno do hospital, Van Gogh apresenta sintomas de paranoia e
imagina que lhe querem envenenar. Os cidadãos de Arles, apreensivos, solicitam
seu internamento definitivo. Sendo assim, van Gogh passa a viver no hospital de
Arles como paciente e preso. Rejeitado pelo amigo Gauguin e pela cidade,
descartados seus planos da comunidade de artistas, se agrava a depressão de Van
Gogh, que tinha como único amigo seu irmão Theo, que por sua vez estava por
casar-se. O casamento de Theo contribui para a inquietação de Vincent, que teme
pelo afastamento do irmão.
Em 1889, aos 36 anos, pediu para ser internado no hospital
psiquiátrico em Saint-Paul-de-Mausole, perto de Saint-Rémy-de-Provence, na Provença. A região do asilo possuía muitas searas de trigo, vinhas e olivais,
que transformaram-se na principal fonte de inspiração para os quadros
seguintes, que marcaram nova mudança de estilo: as pequenas pinceladas
evoluíram para curvas espiraladas. Em maio de 1890, Vincent
deixou a clínica e mudou-se de novo para perto de Paris (em Auvers-sur-Oise), onde podia estar mais perto do seu irmão e
frequentar as consultas do doutor Paul Gachet, um especialista habituado a
lidar com artistas, recomendado por Camille Pissarro. Gachet não conseguiu melhorias no estado de
espírito de Vincent, mas foi a inspiração para o conhecido Retrato
do Doutor Gachet. Em Auvers
Van Gogh produz cerca de oitenta pinturas.
Entretanto, a depressão agravou-se, e a 27 de
Julho de 1890, depois de semanas de intensa atividade criativa (nesta
época Van Gogh pinta, em média, um quadro por dia),Van Gogh dirige-se ao campo
onde disparou um tiro contra o peito. Arrastou-se de volta à pensão onde se
instalara e onde morreu dois dias depois, nos braços de Theo.As suas últimas
palavras, dirigidas a Theo, teriam sido: "La tristesse durera
toujours" (em francês, "A tristeza durará para sempre").
Na ocasião, o diagnóstico de Van Gogh mencionava perturbações epiléticas, ainda
que o diretor do asilo, Dr. Peyron, sequer fosse especialista em psiquiatria. As
crises ocorriam de tempos em tempos, precedidas por sonolência e em seguida
apatia. Tinham a média de duração de duas a quatro semanas, período no qual Van
Gogh não conseguia pintar. Nestas crises predominavam a violência e as alucinações. No
entanto, Van Gogh tinha consciência de sua doença e lhe era repulsivo viver com
os demais doentes mentais da instituição.
A doença de Van Gogh foi analisada durante os
anos posteriores e existem várias teses sobre o diagnóstico. Alguns como o
doutor Dietrich Blumer, em artigo publicado no American Journal of
Psychiatry, mantém o diagnóstico de epilepsia do lobo
temporal, agravada pelo uso do absinto. Segundo
alguns, Vincent teria sofrido de xantopsia (visão
dos objetos em amarelo), por isso exagerava no amarelo em suas telas. Esta
xantopsia pode ou não ter surgido pelo excesso de ingestão de absinto, que
contém tujona, uma
toxina. Outra teoria seria que doutor Gachet teria indicado o uso de digitalis para o
tratamento de epilepsia, o que poderia ter ocasionado visão amarelada a Van
Gogh. Outros documentos relatam ainda que na verdade Van Gogh seria daltônico.
Há ainda diagnósticos de esquizofrenia e de transtorno bipolar do humor, sendo
este último o diagnóstico mais aceito. Consta que na família de Van Gogh
existiram outros casos de transtorno mental: Théo sofreu depressão e ansiedade
e faleceu de "demência paralítica" (neurossífilis), no Instituto
Médico para Doentes Mentais em Utrecht. Willemina era esquizofrênica e viveu
durante 40 anos neste mesmo instituto e Cornelius cometeu suicídio aos 37 anos
de idade. Faleceu em 29 de julho de 1890.
Encontra-se sepultado em no cemitério municipal de Auvers-sur-Oise na França.
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